segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Experiência nem sempre é sinônimo de sucesso

The Town, um festival estreante na capital paulista, com um público estimado de 100 mil pessoas, ocupando o espaço do Autódromo de São Paulo. Um festival novo, já ousando em suas proporções, respaldado num belo cartão de visitas, com 38 anos de credibilidade e evolução. Sim, o marketing em cima do The Town era basicamente dizer: "fiquem tranquilos, a garantia de qualidade nós garantimos. Vejam o que oferecemos há mais de 3 décadas no Rock in Rio"! Pois é, eu (e milhares de pessoas) acreditei que veria a versão paulista o Rock in Rio.


Muito foi investido em marketing, em site, em aplicativo, em parcerias com grandes patrocinadores, em grandes ações de pré-venda. Durante um ano foi semeada a expectativa de algo grandioso e impecável. Foram plantando a sementinha aos poucos, desde a última edição do Rock in Rio, em 2022. Agora, em setembro de 2023, entregaram a tão esperada "cidade da música" paulistana num espaço questionável. Ir até Interlagos para um festival sempre foi algo impensável. O autódromo fica num bairro da zona sul, com acesso complicado. Embora a divulgação do festival tenha tentado convencer a todos que havia transportes "expressos" para entrar e sair de lá, digamos que o termo está bem, bem, bem longe da realidade. De "expresso", as opções de transportes não tinham nada.


As opções indicadas foram trem e ônibus oficiais do festival. Maravilha! Todos poderiam confiar, afinal, são 38 anos produzindo algo tão grandioso quanto o Rock in Rio. Porém, aprendi ontem, da pior forma, a não confiar tanto assim nesse tipo de promessa. Minha (péssima) experiência de transporte foi com os ônibus fretados, mas conversei com muitas pessoas que foram de trem e não fizeram comentários muito positivos (trens lotados, trens quebrados, desinformação...). Os ônibus destinados ao festival não seguiam padrão de qualidade. Você poderia ter sorte de pegar um ônibus novo, com ar condicionado, ou o pior ônibus de linha que puder imaginar, sujo e barulhento. As indicações sobre filas e horários nos locais de embarque eram inexistentes. Ainda bem que foi possível contar com funcionários prestativos, mas visivelmente constrangidos com o serviço oferecido.


Bom, ainda estou na ida, que durou rápidos (!) 60 minutos. Fomos deixados a poucos metros do local do festival. Porém....ah, sempre o porém vindo com aquele balde de água fria.. Infelizmente, a chegada foi impactante.. negativamente. Uma fila interminável dava a volta no autódromo. Sob sol de 32 graus, a energia das milhares de pessoas felizes e animadas para curtirem muitas horas de festival foi queimada logo na largada. Ficamos 1:30 na fila, com poucos funcionários orientando, pouca sinalização e muita lentidão. Finalmente chegou a tão esperada hora de entrar. Segui as orientações (enviadas dezenas de vezes por e-mail) de carteirinha de estudante em mãos, comprovante do responsável legal do menor (sim, eu estava levando uma menor de idade. Quem não era pai/mãe, ainda precisou levar um documento registrado em cartório como responsável) e toda uma lista de restrições de itens que não poderiam estar na bolsa. A bolsa realmente foi 100% revistada, além de passarem detector de metais. Já os documentos comprobatórios de meia entrada e de responsável legal do menor ficaram apenas no discurso dos e-mails. Na hora, nada foi checado. Apenas o QR code do ingresso era necessário.


Ah, mas está reclamando do que? Entra e aproveita! Claro, depois de tanto perrengue e de tamanha expectativa, corremos para entrar e aproveitar. Ops! Não podia correr... o caminho era de pura lama, resultado da tempestade da noite anterior. Funcionária, sozinha no meio da multidão, gritava no megafone para todos irem devagar e pelos cantos para não escorregarem numa lama fétida (juro! um cheiro horrível, que evaporava aos poucos com o calor que estava fazendo no dia).


Bom, mas depois de perder mais alguns bons minutos nesse percurso ingrato, entramos de fato no festival. Estava bonito, mas um pouco árido demais. É um local sem qualquer verde, não exatamente bonito. À noite, com as muitas luzes instaladas por toda parte, o visual ficava mais bacana.


Depois de tanto tempo perdido para chegar e entrar, já estava na hora do primeiro show. Corremos para não perder, mas não era necessária correria... o primeiro show do palco "The One" (o segundo principal do festival) atrasou absurdos 40 minutos. Atraso como esse compromete todo o andamento do festival, pois o som de cada palco acaba vazando para o vizinho. Foi o que aconteceu muitas vezes. O palco de rap dividiu o som com Ney Matogrosso. Digamos que nenhum dos públicos estava curtindo muito a interferência de um palco no outro. 


Vocês podem estar pensando "Poxa, Aline, você não tem nada de bom para contar sobre o festival?". Sim, eu tenho, claro! Senão não teria ficado até o último show. Os palcos eram bonitos, a programação bem variada e com grandes nomes. Havia muitos banheiros, bem montados e com água até o final do festival (isso é importante, pois já fui em festival que a água acabou após umas 2 horas de evento). Também não foi problema comer, pois foi oferecida uma grande diversidade de opções (muitas bem caras). Muitas ações ecologicamente corretas, pena que o público não colabore. A visão ao final, de uma camada de lixo no chão era um tanto discrepante da bonita proposta de recolher descartáveis em troca de brindes no estande da Braskem.


Antes de falar da melhor parte, o show principal, queria voltar à minha lista de críticas negativas... Sinceramente, 100 mil pessoas não é um número razoável para o espaço do evento. Vários ambientes ficavam intransitáveis em muitos momentos. Os banheiros (que eram muitos), ficavam com filas a se perder de vista. Tanto pelo conforto quanto pela segurança, apelo por uma revisão da quantidade de público para futuras edições. Não é possível que responsáveis do corpo de bombeiros olhassem a lotação do espaço e os acessos destinados ao público (com exceção do VIP, que tinha acesso e área exclusivos) e achassem que estava tudo dentro dos padrões de segurança. 


Tentei manter distância de todas as piores muvucas do festival, descansar um pouco durante alguns show, sentando na grama e recarregando as energias. Ainda bem, foi muito útil, pois eu nem imaginava o que ainda estava por vir...


Vamos começar pela parte boa. Boa não, absurdamente boa. O show do Bruno Mars é realmente arrasador. Ele e sua banda, cantam e dançam muito. Repertório cheio de hits, que contagiaram o público do primeiro ao último segundo de show. "Bruninho", como ele mesmo brincou, em uma de suas muitas interações em português com o público, é o rei do carisma. O cara sabe cativar o público. Foram 2 horas de um show intenso, que faria todos irem embora felizes e com energias recarregadas... Faria, se não fosse boicotado pela terrível (des)organização da saída, que  aconteceu à 1h da madrugada, quando o show de Bruno Mars acabou.


Com pouca ou nenhuma sinalização, com os obstáculos da lama "cheirosa", com os afunilamentos que as saídas causavam, podem computar ao menos 60 minutos para finalmente sair do autódromo. Então ainda havia a caminhada até o ponto de embarque (mais uns 10 minutos). Nenhuma sinalização, praticamente nenhum funcionário, filas dando voltas pelas ruas residenciais de Interlagos. Vocês acreditariam se eu dissesse que ficamos 2 horas na fila do ônibus em plena madrugada? Acreditem, foi o que aconteceu. Duas horas para voltar de pé num ônibus velho (era opcional ir de pé, mas quem recusaria após 2 horas de pé na rua às 4h da manhã?!). O motorista do ônibus parecia mais ansioso para chegar em casa do que todos. Dirigindo em alta velocidade, o que me fez dar um grito no percurso final e pedir pra sair. Sim, eu pedi pra sair e apelei pro Uber. No último minuto do rolê, eu pedi para sair. Deu pra mim. Depois desse nível de perrengue eu queria, ao menos, fazer valer tanto esforço e chegar viva em casa junto com milha filha.


Queria muito estar aqui só convidando a todos para verem vídeos que fiz. Queria estar naquele dia seguinte de festival, extasiada, curtindo a felicidade de lembrar de cada detalhe, de cada show. Prefiro ficar apenas com as lembranças da minha filha curtindo com o grupo de amigos, da alegria deles juntos, curtindo seu primeiro grande festival, e, claro, ficarei sempre com a lembrança do espetacular Bruninho Mars, que desejo muito rever, num show solo, com muito mais conforto, para que eu volte pra casa apenas e plenamente com toda vibração positiva que ele proporciona.


Infelizmente, experiência de 38 anos em produções grandiosas não é mesmo sinônimo de sucesso.


Alguns vídeos que fiz: The Town - vídeos