domingo, 3 de dezembro de 2023

"Pedágio": sutileza e habilidade de enfiar o dedo na ferida do Brasil profundo

Lembro bem da época em que ir ao cinema aos finais de semana era um programa disputado, quase uma missão impossível se não fosse planejada com antecedência. Não que eu tenha saudade da frustração de chegar ao cinema e estar tudo esgotado... Porém, adoraria um meio termo.

Um filme que eu estava de olho há tempos (ouvindo muito sobre ele em podcasts, rádio e reportagens sobre festivais de cinema) entrou em cartaz nesta semana. Tem sido feita uma campanha em defesa do cinema nacional, pedindo que o público não espere, que vá na semana de estreia. Essa seria uma maneira de garantir bilheteria e manter (ou, que sonho, ampliar) o número de salas de exibição de filmes nacionais.

Dessa forma, ontem, apoiando a campanha e matando minha vontade de ver "Pedágio", fui verificar as opções de salas, horários e a disponibilidade ingressos. Triste constatar que um filme premiado, que está rodando o mundo em festivais, pode ser assistido em apenas meia dúzia de salas em São Paulo. E pior, sem lotação. Comprei ingresso com facilidade.

Qual será o futuro do cinema? Como resgatar o público perdido durante a pandemia, com a mudança de hábitos e a invasão dos streamings?

Bom, mas vamos à parte boa. O filme!


"Pedágio" é o segundo longa da cineasta Carolina Markowicz. Eu espero que seja o segundo de uma longa lista de produções de Carolina, porque fazia realmente muito tempo que um filme não me surpreendia tanto.

Carolina convida o público a furar a bolha, a entrar num Brasil profundo e muito mais comum do que se imagina. Com diálogos precisos, "Pedágio" enfia o dedo na ferida com habilidade, sutileza e elegância. Somos conduzidos a conhecer melhor e refletir sobre a dinâmica das igrejas, a violência, o conservadorismo e, principalmente, a hipocrisia.

Com um elenco em perfeita sintonia, fotografia inusitada, ótimo roteiro e direção, "Pedágio" é memorável. É um filme tão complexo, com tantas camadas de crítica e sensibilidade. que é difícil fazer uma sinopse à altura do filme e sem spoilers

Esbanjando humor ácido e irônico, o filme arranca risos nervosos da plateia. O desconforto com os absurdos, a violência implícita nas falas, as inversões de valores, as condições precárias de trabalho, o machismo e o moralismo transbordam na tela. Tudo com tanta delicadeza que o filme termina, mas não vai embora. Sem dúvida, frases como a de Suellen (Maeve Jinkings) para o filho Tiquinho (Kauã Alvarenga) vão ecoar por algum tempo:


- "Filho, você não percebe que eu só estou querendo te proteger? Você acha que as coisas são fáceis lá fora"

- "Lá fora, mãe?!"


"Pedágio" não está na ficção. Ele é o Brasil. Ele está ao seu lado.


segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Experiência nem sempre é sinônimo de sucesso

The Town, um festival estreante na capital paulista, com um público estimado de 100 mil pessoas, ocupando o espaço do Autódromo de São Paulo. Um festival novo, já ousando em suas proporções, respaldado num belo cartão de visitas, com 38 anos de credibilidade e evolução. Sim, o marketing em cima do The Town era basicamente dizer: "fiquem tranquilos, a garantia de qualidade nós garantimos. Vejam o que oferecemos há mais de 3 décadas no Rock in Rio"! Pois é, eu (e milhares de pessoas) acreditei que veria a versão paulista o Rock in Rio.


Muito foi investido em marketing, em site, em aplicativo, em parcerias com grandes patrocinadores, em grandes ações de pré-venda. Durante um ano foi semeada a expectativa de algo grandioso e impecável. Foram plantando a sementinha aos poucos, desde a última edição do Rock in Rio, em 2022. Agora, em setembro de 2023, entregaram a tão esperada "cidade da música" paulistana num espaço questionável. Ir até Interlagos para um festival sempre foi algo impensável. O autódromo fica num bairro da zona sul, com acesso complicado. Embora a divulgação do festival tenha tentado convencer a todos que havia transportes "expressos" para entrar e sair de lá, digamos que o termo está bem, bem, bem longe da realidade. De "expresso", as opções de transportes não tinham nada.


As opções indicadas foram trem e ônibus oficiais do festival. Maravilha! Todos poderiam confiar, afinal, são 38 anos produzindo algo tão grandioso quanto o Rock in Rio. Porém, aprendi ontem, da pior forma, a não confiar tanto assim nesse tipo de promessa. Minha (péssima) experiência de transporte foi com os ônibus fretados, mas conversei com muitas pessoas que foram de trem e não fizeram comentários muito positivos (trens lotados, trens quebrados, desinformação...). Os ônibus destinados ao festival não seguiam padrão de qualidade. Você poderia ter sorte de pegar um ônibus novo, com ar condicionado, ou o pior ônibus de linha que puder imaginar, sujo e barulhento. As indicações sobre filas e horários nos locais de embarque eram inexistentes. Ainda bem que foi possível contar com funcionários prestativos, mas visivelmente constrangidos com o serviço oferecido.


Bom, ainda estou na ida, que durou rápidos (!) 60 minutos. Fomos deixados a poucos metros do local do festival. Porém....ah, sempre o porém vindo com aquele balde de água fria.. Infelizmente, a chegada foi impactante.. negativamente. Uma fila interminável dava a volta no autódromo. Sob sol de 32 graus, a energia das milhares de pessoas felizes e animadas para curtirem muitas horas de festival foi queimada logo na largada. Ficamos 1:30 na fila, com poucos funcionários orientando, pouca sinalização e muita lentidão. Finalmente chegou a tão esperada hora de entrar. Segui as orientações (enviadas dezenas de vezes por e-mail) de carteirinha de estudante em mãos, comprovante do responsável legal do menor (sim, eu estava levando uma menor de idade. Quem não era pai/mãe, ainda precisou levar um documento registrado em cartório como responsável) e toda uma lista de restrições de itens que não poderiam estar na bolsa. A bolsa realmente foi 100% revistada, além de passarem detector de metais. Já os documentos comprobatórios de meia entrada e de responsável legal do menor ficaram apenas no discurso dos e-mails. Na hora, nada foi checado. Apenas o QR code do ingresso era necessário.


Ah, mas está reclamando do que? Entra e aproveita! Claro, depois de tanto perrengue e de tamanha expectativa, corremos para entrar e aproveitar. Ops! Não podia correr... o caminho era de pura lama, resultado da tempestade da noite anterior. Funcionária, sozinha no meio da multidão, gritava no megafone para todos irem devagar e pelos cantos para não escorregarem numa lama fétida (juro! um cheiro horrível, que evaporava aos poucos com o calor que estava fazendo no dia).


Bom, mas depois de perder mais alguns bons minutos nesse percurso ingrato, entramos de fato no festival. Estava bonito, mas um pouco árido demais. É um local sem qualquer verde, não exatamente bonito. À noite, com as muitas luzes instaladas por toda parte, o visual ficava mais bacana.


Depois de tanto tempo perdido para chegar e entrar, já estava na hora do primeiro show. Corremos para não perder, mas não era necessária correria... o primeiro show do palco "The One" (o segundo principal do festival) atrasou absurdos 40 minutos. Atraso como esse compromete todo o andamento do festival, pois o som de cada palco acaba vazando para o vizinho. Foi o que aconteceu muitas vezes. O palco de rap dividiu o som com Ney Matogrosso. Digamos que nenhum dos públicos estava curtindo muito a interferência de um palco no outro. 


Vocês podem estar pensando "Poxa, Aline, você não tem nada de bom para contar sobre o festival?". Sim, eu tenho, claro! Senão não teria ficado até o último show. Os palcos eram bonitos, a programação bem variada e com grandes nomes. Havia muitos banheiros, bem montados e com água até o final do festival (isso é importante, pois já fui em festival que a água acabou após umas 2 horas de evento). Também não foi problema comer, pois foi oferecida uma grande diversidade de opções (muitas bem caras). Muitas ações ecologicamente corretas, pena que o público não colabore. A visão ao final, de uma camada de lixo no chão era um tanto discrepante da bonita proposta de recolher descartáveis em troca de brindes no estande da Braskem.


Antes de falar da melhor parte, o show principal, queria voltar à minha lista de críticas negativas... Sinceramente, 100 mil pessoas não é um número razoável para o espaço do evento. Vários ambientes ficavam intransitáveis em muitos momentos. Os banheiros (que eram muitos), ficavam com filas a se perder de vista. Tanto pelo conforto quanto pela segurança, apelo por uma revisão da quantidade de público para futuras edições. Não é possível que responsáveis do corpo de bombeiros olhassem a lotação do espaço e os acessos destinados ao público (com exceção do VIP, que tinha acesso e área exclusivos) e achassem que estava tudo dentro dos padrões de segurança. 


Tentei manter distância de todas as piores muvucas do festival, descansar um pouco durante alguns show, sentando na grama e recarregando as energias. Ainda bem, foi muito útil, pois eu nem imaginava o que ainda estava por vir...


Vamos começar pela parte boa. Boa não, absurdamente boa. O show do Bruno Mars é realmente arrasador. Ele e sua banda, cantam e dançam muito. Repertório cheio de hits, que contagiaram o público do primeiro ao último segundo de show. "Bruninho", como ele mesmo brincou, em uma de suas muitas interações em português com o público, é o rei do carisma. O cara sabe cativar o público. Foram 2 horas de um show intenso, que faria todos irem embora felizes e com energias recarregadas... Faria, se não fosse boicotado pela terrível (des)organização da saída, que  aconteceu à 1h da madrugada, quando o show de Bruno Mars acabou.


Com pouca ou nenhuma sinalização, com os obstáculos da lama "cheirosa", com os afunilamentos que as saídas causavam, podem computar ao menos 60 minutos para finalmente sair do autódromo. Então ainda havia a caminhada até o ponto de embarque (mais uns 10 minutos). Nenhuma sinalização, praticamente nenhum funcionário, filas dando voltas pelas ruas residenciais de Interlagos. Vocês acreditariam se eu dissesse que ficamos 2 horas na fila do ônibus em plena madrugada? Acreditem, foi o que aconteceu. Duas horas para voltar de pé num ônibus velho (era opcional ir de pé, mas quem recusaria após 2 horas de pé na rua às 4h da manhã?!). O motorista do ônibus parecia mais ansioso para chegar em casa do que todos. Dirigindo em alta velocidade, o que me fez dar um grito no percurso final e pedir pra sair. Sim, eu pedi pra sair e apelei pro Uber. No último minuto do rolê, eu pedi para sair. Deu pra mim. Depois desse nível de perrengue eu queria, ao menos, fazer valer tanto esforço e chegar viva em casa junto com milha filha.


Queria muito estar aqui só convidando a todos para verem vídeos que fiz. Queria estar naquele dia seguinte de festival, extasiada, curtindo a felicidade de lembrar de cada detalhe, de cada show. Prefiro ficar apenas com as lembranças da minha filha curtindo com o grupo de amigos, da alegria deles juntos, curtindo seu primeiro grande festival, e, claro, ficarei sempre com a lembrança do espetacular Bruninho Mars, que desejo muito rever, num show solo, com muito mais conforto, para que eu volte pra casa apenas e plenamente com toda vibração positiva que ele proporciona.


Infelizmente, experiência de 38 anos em produções grandiosas não é mesmo sinônimo de sucesso.


Alguns vídeos que fiz: The Town - vídeos

sexta-feira, 22 de julho de 2022

Para enxergar é preciso realmente observar

Nesta semana tive férias e me dediquei a matar as saudades de um tipo de passeio que amamos aqui em casa, mas nem sempre temos tempo...passar o dia no parque. O favorito é, sem dúvida, o Ibirapuera. Enorme, com árvores maravilhosas (que agora estão especialmente lindas, cheias de ipês floridos), um lago extenso e cheio de patos, garças e cisnes. Além da natureza, o Ibirapuera tem muita coisa para fazer. Há museus, planetário, espaço para shows, parquinhos, quadras... É possível passar algumas horas por lá e voltar alguns dias por semana sem enjoar ou sem repetir o programa anterior!




Há alguns anos nossas idas ao Ibirapuera eram sempre acompanhadas de patins, pois havia um espaço ideal para patinação, a Marquise, onde o piso é (era) liso e plano. Porém, infelizmente toda a área está interditada desde 2019. E desde de 2019, adivinhem... nada foi feito. A "obra" está parada, completamente abandonada. A cada ida ao parque esperamos chegar e ver um cenário diferente, mas as telas de proteção e as faixas de interdição continuam empoeirando por ali.




Bem ao lado dessa interdição eterna há alguns dos principais pontos turísticos do parque: Auditório Ibirapuera, MAM, Museu Afro Brasil, Bienal e Oca. Ou seja, não é um local escondido, está na passagem de pontos muito movimentados do parque. Na Oca, por exemplo, atualmente, está em cartaz a exposição 'A Beleza Sombria dos Monstros: 13 Anos da Arte de Tim Burton', que tem formado longas filas na entrada, exatamente ao lado da Marquise.

Breves comentários sobre a exposição, que visitamos hoje... Sinceramente, foi um balde de água fria às expectativas que tínhamos de entrar no mundo de Tim Burton, de ver um pouco de "Edward Mãos de Tesoura" e demais personagens clássicos. A cada sala um funcionário passava orientações, dizendo o que poderia ou não ser fotografado, mesmo que eu não demonstrasse qualquer interesse por fotos, nem estivesse com o celular na mão. Muito se estimulou o vicio por fotografar e postar o tempo todo. Muito se investiu em óculos 3D, óculos de realidade virtual e lencinhos para higienização. Os óculos poderiam ser divertidos se houvesse realmente conteúdos surpreendentes para serem vistos através dessas lentes, mas a sensação que tivemos foi de uma repetição de imagens iguais. Uma pena, porque Tim Burton é muito mais interessante do que isso, merecia mais. 

O Parque do Ibirapuera também.

Quem sabe se o olhar das pessoas, e de suas lentes dos celulares, enxergassem não apenas o que é bonito para as redes sociais, a produção da exposição notasse que algo não está funcionando muito bem.

Quem sabe se os frequentadores do parque estivessem de fato enxergando o cenário de abandono ao lado da Oca algo já tivesse sido feito para abreviar o descaso com a Marquise. Para enxergar é preciso realmente observar.




domingo, 10 de julho de 2022

A Broadway na Barra Funda

Nos últimos meses, depois de 2 anos de reclusão durante a pandemia, retomei com intensidade uma grande paixão, o teatro. Desde a adolescência descobri o quanto amava esse universo. Amava ir diversas vezes aos espetáculos que havia gostado muito, colecionava ingressos e críticas de jornal, tentava arrastar todo mundo pro teatro comigo. Enfim, era apaixonada, quase viciada... Além de ir ao teatro, fiz também, por diversão e buscando me  libertar da timidez, alguns cursos livres, no Indac e no Grupo Tapa. Não tinha, nem tenho, pretensões de ser atriz, mas não descarto ainda trabalhar na produção ou divulgação teatral. Aqui no blog, de certa forma, já trabalho na divulgação, espero que desperte a curiosidade, o interesse e, principalmente, a ida de algumas pessoas ao teatro.

Curiosamente, as últimas cinco montagens que assisti eram de teatro musical. Não foi uma escolha minha pelo gênero, mas sim, casualidade... dicas que ouvi na Rádio Eldorado pelo jornalista Ubiratan Brasil, convite de uma amiga e até uma caminhada em frente à PUC, que me fez notar o cartaz de divulgação de "Morte e Vida Severina". Não vou detalhar minha opinião por essa montagem em cartaz no TUCA, mas digo, infelizmente, que não iria de novo nem indicaria... Quebrando a série de musicais, irei assistir "Papa Highirte", de Oduvaldo Vianna Filho, em montagem do Grupo Tapa (que tem feito campanha para não precisar fechar as portas).

Mas, voltando ao musicais, com exceção da peça no TUCA, tive ótimas experiências em todos os demais espetáculos que assisti. A melhor delas foi na última sexta-feira, na estreia de "West Side Story", no Theatro São Pedro, no bairro da Barra Funda. Eu não conhecia a história desse clássico da Broadway, nem no teatro nem no cinema, mas tinha muita convicção de que não poderia perder, pois havia dois importantes nomes envolvidos na produção: Charles Möeller e Cláudio Botelho.

Cláudio Botelho me conquistou por completo em 1998, na peça "Na Bagunça do Teu Coração", quando ele e Cláudia Netto contavam, por meio de músicas maravilhosas de Chico Buarque, uma história de amor. Essa foi uma daquelas montagens que assisti repetidas vezes, comprei o cd da peça, fiquei fascinada.

Na última sexta-feira, tive a confirmação de que, havendo Charles Möeller e Cláudio Botelho envolvidos na produção, um espetáculo impecável será apresentado.

"West Side Story" tem uma produção grandiosa, com 31 atores, que cantam, dançam e interpretam brilhantemente seus papéis (não há qualquer irregularidade no elenco, todos, sem exceção, são incríveis). O cenário de Rogério Falcão tem ótimas soluções, com movimentações ágeis e que mudam completamente a ambientação de cada cena. Foram comprados os direitos da coreografia original de Jerome Robbins e o resultado é uma perfeição, com danças cheias de energia e leveza, ressaltadas ainda mais pelos figurinos cheios de movimento de Fabio Namatame. As músicas de Leonardo Bernstein são interpretadas pela Orquestra do Theatro São Pedro e conduzidas pelo maestro Cláudio Cruz. Como disse Ubiratan Brasil, durante sua dica no "Fim de Tarde Eldorado, "é um espetáculo de encher os olhos".

Será que "West Side Story" entrará na minha lista dos espetáculos que vi mais de uma vez? Claro que sim!  Já garanti meu lugar para uma segunda ida ao Theatro São Pedro antes do final da temporada...

Só digo mais uma coisa: corra para comprar seu ingresso! "West Side Story", assim como tem acontecido com a maioria dos espetáculos ultimamente (algo que tenho tentado entender inclusive, pois, mesmo com teatros lotados, as temporadas tem durado apenas 1 ou 2 meses), termina em breve, no início de agosto. Os preços do Theatro São Pedro são bastante acessíveis, entre R$ 15 e R$ 80 (link abaixo). Garanto que serão duas horas de puro encantamento com essa versão moderna e envolvente de Romeu e Julieta.

https://theatrosaopedro.byinti.com/#/event/westsidestory







domingo, 29 de maio de 2022

Jão. Você vai ouvir falar muito dele!

Ontem, contando para algumas pessoas sobre o show que fui na última sexta-feira, a resposta era uma só: quem é Jão? Se você também está se fazendo essa mesma pergunta, eu respondo: você ainda vai ouvir falar muito dele, mas eu vou dar uma ajuda e deixar aqui o link de uma reportagem da Forbes explicando a recente e explosiva trajetória desse cantor/compositor.

Eu, particularmente, havia ouvido falar dele por comentários da minha filha há algum tempo, o que despertou minha curiosidade por assistir à transmissão do show dele no Lollapalooza 2022, pela Multishow. Fiquei impressionada com o domínio de palco, com a autenticidade, com a energia dele no palco e com a troca com o público (que canta TODAS as músicas. Detalhe: o repertório do show é 99% de composições próprias. Jão canta apenas uma música no show de seu ídolo declarado, Cazuza. Aliás, que delícia ouvir adolescentes cantando Cazuza! Obrigada, Jão!).

Bom, se depois de ler esse breve resumo e a ótima reportagem da Forbes, você ainda não estiver entendendo o sucesso desse artista vindo do interior de SP, posso apenas afirmar mais algumas coisas:

Primeiro: O show é muito caprichado, com direito a cenário (cada turnê ou festival tem um super cenário diferente, por exemplo, navio na turnê "Pirata" e polvo gigante roxo nos festivais que ele tem participado por todo Brasil), passarela (que enlouquece o público da pista, que consegue ficar bem pertinho de Jão) e um efeito especial ao final (uma chuva! calma, é apenas em cima dele).

Segundo: A banda é muito boa, bem entrosada, com direito a duas backing vocals cheias de personalidade, Francine Môh e Marta Souza, que marcam presença importante em vários momentos da apresentação.

Terceiro: É impossível não se contagiar com o público enlouquecido dele. É realmente uma euforia coletiva. Um público de adolescentes, jovens adultos, LGBTs e muitos pais, como eu, acompanhando menores de 14 anos.

Quarto: Jão canta muito e tem um repertório cheio de hits, que grudam na mente. Eu me pego cantando em vários momentos do dia. Cantando feliz, porque ele já me ganhou. Não sou apenas uma mãe acompanhante no show. Deu pra notar?

Quinto: Jão se posiciona politicamente. Inevitavelmente chega um momento do show com aquele belo hino, puxado pelo público, contra o atual (des) Governo.

Enfim, tudo isso para contar pra vocês que eu descobri nesse mês que sou realmente muito boa em uma coisa bem difícil: ganhar concursos culturais. Concursos em que a tarefa é escrever um texto explicando o por quê que eu mereço ganhar o prêmio em questão.

Fazendo uma breve retrospectiva eu lembrei que ganhei, em 2010, um par de ingressos para o camarote do show da Vanessa da Mata na finada casa de shows Citibank Hall (ex-Palace), em 2018 ganhei um par de ingressos para os dois dias do Festival Coala, no Memorial da América Latina, há duas semanas ganhei um par de ingressos para o Festival Mita (os ingressos custavam R$ 700!!!!)... Tudo isso já seria surpreendente, mas, calma, eu tive a certeza na sexta-feira passada que o prêmio mais difícil eu acabei de ganhar!

Descobri há uns 10 dias que uma rádio bastante popular, a Rádio Disney, estava iniciando uma promoção que daria dois ingressos para o show do, claro, voltamos a ele... Jão. 

A tarefa era aquela de sempre: dar uma bela justificativa do por quê os ingressos deveriam ser meus. Os ingressos para esse show, assim como praticamente todos os shows dele deste ano, estavam 100% esgotados.

Mandei muitos textos. Apelei para mensagens de áudio bem criativas. No dia do resultado, sim, lá estava eu na lista dos premiados. Eu nunca me acostumo com a sensação de ler meu nome como vencedora, é realmente bom demais, dá muito orgulho e aquele frio na barriga gostoso! 

Porém, eu tive a real dimensão do quanto esse premio foi disputado quando cheguei no Espaço das Américas no dia 27/05/2022! Meu Deus!!!! Devem ter sido milhares de mensagens enviadas à rádio. O público do Jão é gigante e extremamente apaixonado.

Posso afirmar uma coisa. Essa paixão não é à toa. 

Jão está apenas no início da carreira e já está brilhando muito. 

Gostando ou não do estilo dele, você poderá ser pego de surpresa num baita congestionamento próximo ao Allianz Parque muito em breve.... depois não diga que eu não avisei!!!








#jão #espaçodasamericas


quarta-feira, 18 de maio de 2022

Barista amadora

Semana passada fomos à uma exposição no Centro Cultural Banco do Brasil e, na saída, decidimos tomar um lanche rápido no “Café Girondino” que fica lá dentro.

Tomás, surpreendentemente, escolheu um café, mas não um café qualquer. Optou pelo "Café Caramel", que, como o nome diz, tinha caramelo, além de leite e café.

Sofia achou uma boa ideia e escolheu o mesmo. O pedido deles chegou caprichado, com desenho na espuma. Adoraram.

Dias depois, em casa, após o almoço, Tomás pediu:


Tomás: Mãe, pode me fazer um café?

Eu: Café? Ok... Só café ou quer que coloque leite?

Tomás: Não. Pode colocar o que vc quiser.

Eu: Não? Como assim? O que você quer?

Tomás: O que vc quiser. Pode escolher.


E então entendi que ele achou que eu levava jeito para barista. Queria que eu colocasse minha criatividade para trabalhar e oferecesse um café, no mínimo, à altura do "Café Caramel" do Girondino.

Fiz o que pude, café, leite com espuma e até um desenho. Acho que foi aprovado, porque Tomás, antes de beber tudo, quis tirar uma foto. Confiram a seguir:




terça-feira, 17 de maio de 2022

O irmão do bróquis

Em 2014, o "bróquis" passou por aqui. Desde então muita coisa mudou. Sofia já não topa comê-lo com tanta frequência. Tomás continua bastante interessado.

Semana passada fiz um Yakissoba, com muitos bróquis, ou melhor, brócolis. 

Tomás comeu um prato pratão e ainda repetiu. Satisfeito, foi deixar o prato na pia e me viu guardando o que havia sobrado num pote. Falou, com tom de indignação:

- Ah, que injusto!!! Você não colocou brócolis para mim!!!!

Impossível, eu tinha certeza que havia caprichado na porção de brócolis para ele. E afirmei com muita convicção de que havia brócolis no prato sim. Ele continuou a reclamação:

- Não colocou desse branquinho - disse ele apontando para o irmão albino do brócolis, mais conhecido como couve-flor...






quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

E no meio do caminho tinha...

Pois é, o blog estava esquecido, abandonado. Talvez estivesse perdido naquela outra vida que tínhamos antes dessa pandemia insana começar. Passaram-se 2 anos dessa ingrata convivência com a COVID-19 rondando nossa vida, tirando nossa paz e liberdade. E ainda deixando todo dia com aquela cara de "Dia da Marmota" (pra quem é xóvem, Dia da Marmota é um filme de 1993, onde o personagem principal estava preso numa repetição do mesmo dia). Bom, a pandemia não acabou, o dia da marmota marca presença ainda, porém, às vezes, algo novo acontece. Hoje foi assim...

Eram 6:30 da manhã de uma quinta-feira estranha, sem rodízio para meu carro, pois uma mega cratera surgiu ao lado da obra do metrô na Marginal Tietê e o trânsito sem caótico ficou um pouco pior. Sem rodízio significa para mim um dia sem stress no trânsito. Posso atrasar 10 minutos sem pensar na multa que poderei receber. 

No caminho para o colégio da Sofia e do Tomás, numa rua quase deserta por onde passávamos, vi uma pomba branca no meio da rua. Estava longe e era óbvio que ela sairia dali até meu carro passar. Fomos chegando perto, mais perto, bem pertinho... A pomba, um tanto gorda, estava imóvel. Quando já estava quase passando por cima e esperando que ela desse aquele voo assustado como as pombas sempre fazem, veio a surpresa! Não era uma pomba branca gorda e preguiçosa. Era um pato! Um pato branco no meio da rua. Parei o carro assustada e esperei o bicho andar lentamente até a calçada.  


No banco de trás, Tomás falou:


- Mãe, se você tivesse atropelado o pato eu nunca mais falaria com você!


E Sofia completou:


- E eu ia ficar traumatizada para sempre!!!


O pato seguiu seu caminho, provavelmente em busca do Parque da Água Branca, e nós continuamos nosso percurso incrédulos com a cena inusitada em pleno centro da cidade.













quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Come to the cute side

No último dia do ano li um texto (não lembro o nome do autor) que dizia: "o ano de 2021 não será um ano melhor". Calma, não era um texto pessimista, mas sim uma reflexão sobre essa expectativa que colocamos sobre o novo ANO. Esperar um ano inteiro melhor do que o anterior pode ser um pouco pesado, pode gerar altas expectativas e talvez muitas frustrações. O conselho do texto era: lembrar que nossa vida é feita por momentos, por dias, minutos, segundos. São eles que devem ser vistos como relevantes e deixar boas memórias. Não um ano. 

Assim, por aqui seguimos nossos momentos, minutos e segundos e aproveito essa primeira semana de uma novo ciclo para dividir minutos de fofura com vocês.

Ontem fui fazer o programa favorito da Sofia de janeiro: ida à papelaria para comprar material escolar. Esse ano não está exatamente emocionante fazer esse tipo de programa, porque a escola mandou uma lista bem enxuta já que não há certeza de como serão as aulas neste ano. Bom, mas ela se divertiu e, além de escolher suas coisas, separou um caderno pro Tomás com tema Baby Yoda, de Star Wars, ou melhor, de Mandalorian, não sei ao certo.

Chegando em casa, Tomás ganhou seu "presente" e falou, eufórico: 

- Como eu vou prestar atenção nas aulas com essa fofura para eu olhar toda hora?!!!

Mais tarde, conversando com a Sofia eles estavam vendo uma notícia que citava o Luciano Huck. Tomás questionou:

- Por que o nome dele é Huck? Ele é forte?

À noite mais uma dose de alegria. 
Antes de dormir, Tomás resolveu ler 2 livros para mim e para a Sofia. Porém, não foi uma mera leitura. Ele estava inspirado, empenhado na interpretação a cada página. 
Sofia perguntou: 

- Tomás, você lê assim na escola?

Com a negativa, ela respondeu:

- Nossa, as professoras iam de amar se você lesse assim nas aulas!"

E completou:

- Tomás,  você descobriu hoje sua vocação! Você vai ser ator!

Não sei o que ele decidirá ser, mas espero que leia mais vezes para divertir a turma aqui de casa. 

E como diz o caderno novo do Tomás... 
"Come to the cute side"! Bons momentos para vocês nesse 2021!!!



domingo, 20 de dezembro de 2020

Não sei, só sei que foi assim

Faltam apenas 11 dias para o ano acabar. 

Vou tentar resumir nesse primeiro (e único) texto do ano, o que foram esses longos 12 meses. 

2020 poderia ter sido uma ficção surrealista de Suassuna. Pensando bem, acho que não, pois o incrível Suassuna daria muito mais leveza e humor aos fatos e personagens.

Talvez 2020 esteja mais para Saramago. Me peguei lembrando muitas vezes, durante esses intermináveis meses, de dois livros dele:  "Ensaio sobre a Cegueira" e "As Intermitências da Morte". Em "As Intermitências da Morte", por exemplo, a narrativa inicia-se com a seguinte frase: "No dia seguinte ninguém morreu" e assim seguiu-se durante a narrativa toda. Infelizmente, ao contrário da história de Saramago, em 2020 apenas no Brasil, desde março, quase 190 mil pessoas morreram vítimas da covid-19.

A pandemia, que tornou 2020 um pesadelo interminável, pode não parecer real, de tão assoladora  e paralisante. O mundo parou, a quarentena de algumas semanas estendeu-se por meses, famílias e amigos encontraram-se apenas por video chamadas, muitos negócios fecharam,  máscaras e álcool viraram acessórios obrigatórios. 

Para muitos, a pandemia de fato não é real. Assim, além de convivermos com um vírus agressivo, há o desafio de vivermos rodeados por negacionistas, que insistem em dizer que é apenas uma "gripezinha". Eles andam por aí sem máscara (ou com ela no queixo) e completam a postura vergonhosa afirmando que a terra é plana e outras pérolas da doutrina do guru Olavo de Carvalho.

Mas não vou fazer do meu primeiro e único texto do ano um relato de tudo o que já cansamos de ler e ouvir por aí. Nem ficar citando nomes como esse acima, que causam extremo mal estar.

Por aqui, além de todo o peso de 2020, tivemos vários momentos de leveza também.

Vivemos todas as datas festivas em casa, apenas nós quarto (ops! 5, porque a Onze está sempre junto), tentando manter os rituais, as decorações, a alegria de cada data. 

Ficamos com o olhar mais atento. Notamos mais os pássaros do bairro (em abril eles fizeram uma verdadeira dança diária em cima de uma árvore frutífera), as diferenças de cada pôr do sol e a fúria das tempestades.

Tivemos serenata virtual através do projeto "Adote o Artista". E também serenata real, com um vizinho violinista se apresentando no terraço de um prédio. Houve até uma serenata ambulante, com um aspirante a cantor perambulando pelo bairro com uma caixa de som num carrinho usando fantasia de Papai Noel.

As aulas à distância foram muito bem sucedidas. O home office idem. Ah, descobri que é possível fazer exercício pelo Youtube!

Assistimos dezenas de séries! Entre elas: "This is Us", "Sex Education", "Fleabag", "Grey's Anatomy", "Orphan Black", "Rita", "Anne with an e"...

Me tornei uma consumidora voraz de podcasts! Entre eles: "Retrato Narrado" (tema desagradável, produção impecável), "Trip FM", "É Nóia Minha", "Calcinha Larga", "Gama Revista", "Foro de Teresina" e "Daria um Livro".

Rolou muito artesanato. Pintura em tela, pintura na parede, pintura em almofada, camiseta tye dye. Muita culinária também! Sofia virou nossa confeiteira oficial da família.

Aprendemos a dar banho na Onze em casa! E Sofia aprendeu a pintar cabelo em casa! Fez mechas rosa no cabelo dela e retocou a minha raiz. Nesse caso, eu me dei bem, muito bem, já que odeio ir a salão de cabeleireiro. 

Descobrimos que dá para tomar sol (com cadeira de praia) no quarto. 

Pois é, há como fazer quase tudo em casa, mas não há nada como a liberdade de escolha. Prefiro, daqui para frente, poder escolher fazer ou não em casa tudo o que descobrimos ser possível em 2020.

Desejo para esse bem-vindo 2021 que seja, para todos nós, um ano com mais leveza, com muita saúde, vacinas bastante eficazes e acessíveis a todos, lucidez, coerência, bom senso, compaixão, empatia, igualdade e paz. 

Que em 2021 todos os abraços e beijos não dados nesse ano que termina possam ser entregues em dobro!!!












quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Portas abertas


Hoje é o último dia da Sofia e do Tomás no colégio onde estudaram desde 2013. Foram 6 anos num ambiente alegre, leve e acolhedor, com profissionais que fizeram a diferença na vida deles e onde eles construíram amizades muito especiais.

Nesses anos de convivência com pais e alunos do Notre, as amizades foram muito além do colégio. Foram dezenas de idas, em grandes e pequenos grupos, a cinemas, teatros, exposições, festas, parques, blocos de carnaval... Demos presentes coletivos super bacanas para professoras, arrecadamos doações para festas, demos risadas juntos, nos apoiamos em momentos difíceis, nos ajudamos nas dúvidas do dia a dia sobre tarefas escolares, trabalhos, recados não dados pelos filhos... Enfim, foram 6 anos de muitas histórias, muita cumplicidade e união.

Mudanças não são fáceis, mas há momentos em que são inevitáveis e acredito que o melhor a fazer é encarar de frente e com pés no chão. Foi assim que buscamos lidar com esse tipo de decisão lá em casa, "jogando aberto", com conversas frequentes e com sensibilidade. Sofia e Tomás tiveram alguns meses para assimilar a ideia, colocar angústias, medos e dúvidas para fora e, a parte mais difícil, irem dando um "até breve" para os amigos. 

Na última segunda-feira Tomás entrou no carro, na volta pra casa, calado e de cabeça baixa. Naquele dia havia acontecido um "amigo chocolate" (amigo secreto com trocas de chocolates) na turma dele e puxei papo perguntando como havia sido. A resposta: 

- Foi legal. 

Insisti na conversa:

- Quem te tirou, Tomás?
- O Lucas.
- Que legal! E como foi a festa na sala?
- Legal.

Silêncio.
E então ele respirou fundo e continuou:

- Sabe que hoje eu fiquei com os olhos cheios de lágrimas e um negócio aqui no peito?
- É mesmo? Por que?
- Porque a Catarina fez um discurso sobre amizade e despedidas.
- O que ela falou?
- Ah, não lembro...

E começou a chorar.

Catarina é amiga dele desde o primeiro ano no colégio. Alegre, carismática, desinibida e extremamente sensível e inteligente (fiquei sabendo que os amigos fazem campanha "Catarina Presidente" para vocês terem uma ideia de como ela se expressa em turma). Ontem recebi o vídeo do discurso... e, claro, também fiquei "com um negócio no peito". Nossa futura presidente, que hoje tem apenas 9 anos, disse:

"Eu sei que todo mundo que vai embora está ficando um pouco triste, porque não vão mais estudar com os amigos, que formaram um laço forte desde a primeira vez que se encontraram. Mas eu sei também que ninguém vai deixar de ser amigo porque mudou de escola. Sei que a gente vai se encontrar em outros lugares. E eu também sei que as portas do colégio vão estar sempre abertas. E também vão estar sempre abertas as portas do nosso coração".

Tão bom saber que estão abertas não apenas as portas do colégio (onde certamente voltaremos para visitar ou curtir festas), do coração das crianças (que expressaram, cada um de sua forma, o mesmo carinho colocado em palavras pela Catarina) , mas também de suas famílias, com as quais convivemos, aprendemos e nos divertimos muito juntos nesses 6 anos de Colégio Notre Dame. 

Sim, ficaremos com muitas saudades dessa rotina juntos. 
Não, isso definitivamente não é uma despedida. 








Passeio no parque

Apresentação de ginástica

Bloco de Carnaval

Festa junina

Cantata de Natal