quinta-feira, 24 de maio de 2018

Meu amor de infância era o Fagner

Nesta semana, uma foto me fez lembrar de um momento dramático que aconteceu quando eu morava sozinha, há uns 15 anos.

Eu estava lavando roupa, no tanque, um momento de muito glamour da vida doméstica. Para não estragar um anel que eu estava usando, tirei-o e coloquei ao lado. Mas não fui muito cuidadosa ao retomar a atividade no tanque, esbarrei no anel e lá foi ele, ralo abaixo. No reflexo e desespero, ao menos consegui fechar a torneira rapidamente. Porém, nem sinal do anel. Fiquei arrasada. Não, não era um anel de ouro, não era herança da família, mas era importante para mim e eu tenho um histórico de apego a coisas singelas... vejam só...

Voltando ao anos 80, eu estava na sala de casa com minha mãe e meu irmão (acho que a cena era essa) quando meu pai entrou com um ar não muito animado. Perguntamos o que tinha acontecido e ele contou que haviam arrebentado o vidro do nosso carro, que estava estacionado na rua, e roubado o rádio/toca-fitas. Comentou , aliviado, que, pelo menos, o carro não havia sido levado. Eu não fiquei nada aliviada, uma aflição me dominou e perguntei:

- Roubaram minhas fitas?!  (eu tinha algumas fitas K-7 favoritas... Para quem nunca ouviu falar em K-7, favor pesquisar no Google, porque isso já existiu sim, assim como o o telefone de discar, a máquina de escrever e algumas outras coisas da minha infância)

Então, meu pai disse:

- Não levaram todas as fitas...
- Mas não me diga que levaram a do Fagner!!!

Pois é... eu era uma criança muito fã de Fagner. A-MA-VA!!! Esse amor louco não é o mesmo hoje em dia, mas até hoje me emociono quando ouço "Ai, Coração alado. Desfolharei meus olhos nesse escuro véu. Não acredito mais no fogo ingênuo, da paixão...".  Bem infantil, né?!

Voltando à resposta do meu pai, ele confirmou... a fita do Fagner agradou muito o ladrão e foi, sim, levada. Momentos de depressão seguiram-se. Chorei muito, fiquei inconsolável.

A dor do anelzinho indo ralo abaixo foi similar à minha despedida forçada da fita do Fagner. Eu olhava pro tanque e chorava... Ainda chorando, tive a brilhante ideia de pedir socorro pro porteiro (meu prédio não tinha zelador). Ele, preocupado com meu desespero, foi imediatamente ao meu apartamento. Quando expliquei o que havia acontecido, ele me olhou meio de canto e disse:

- Você está chorando tanto assim só por causa de um anel?!!!

Como assim?! Só?!!! Aquele anel foi o primeiro presente que eu havia ganhado do meu namorado e o grau de importância e apego era nível máximo. Estávamos juntos há poucos meses, eu super apaixonada e encantada com o anel, que ele havia tirado do dedo e me dado (achei romântico, mas mal podia imaginar o que descobri anos depois. Ele não gosta de usar anel e talvez tenha sido um alívio tirá-lo do dedo e me dar...).

Não expliquei a história do anel para o Vanderlei, o porteiro do prédio, mas quase o beijei quando, rapidamente, numa ação que não exigia muito habilidade, nem técnica, abriu o sifão, tirou o anel e me entregou.

O K-7 do Fagner eu nunca mais recuperei. 
O anel está comigo até hoje. Não uso (não uso anel algum, nem aliança de casamento, o que foi uma boa economia)... mas o carinho por ele é grande.
Ah! E depois da quase perda do anel, descobri que existe sifão e que é possível abrí-lo quando necessário.





terça-feira, 22 de maio de 2018

"Alguém nos ajude, Lázaro, a entender"

Quem acompanha meu Instagram ou Facebook, ao ver fotos postadas nas últimas semanas, talvez esteja se perguntando "o que deu nela, que agora vive em eventos de lançamento de livros?". Por coincidência, fomos a 3 eventos muito bons nas últimas duas semanas relacionados a escritores (uma palestra do Mário Sérgio Cortella, um lançamento de livro com ilustrações de Maurício de Sousa e texto de Mário Sérgio Cortella e o de domingo passado, que darei mais detalhes abaixo). Na verdade, não dá para chamar de coincidência, porque o Facebook cruza os dados da minha conta e dá sugestões de eventos que considera de meu interesse. Sim, o Facebook está certo, estou bem interessada em prestigiar autores que gosto, descobrir livros novos e mais interessada ainda em levar Sofia e Tomás junto.

Descobri, nesses eventos, que, além da alegria de poder dar um abraço, ganhar um autógrafo de um autor que admiramos e levar um (às vezes, mais do que um) bom livro para casa, acompanhar um bate papo sobre o tema do livro, há mais um ponto que pode ser bacana. Talvez soe contraditório, mas esse outro ponto é a fila... Ok, agora vocês tem certeza, sou louca! Meu marido, então, vai me xingar ao ler isso, porque, no lançamento do Maurício de Sousa, a fila estava na rua, não muito agradável nem confortável, mas eu, aproveitando a gentileza dele, fiquei dentro da livraria com as crianças (sim, ele tem um crédito comigo depois dessa). Claro que a fila, à primeira vista, pode desanimar, mas, se você está numa livraria (dentro dela!), a fila te dá a chance de, pra começar, algo raro na correria de SP. exercitar a paciência, desacelerar, observar as pessoas ao redor... Na fila também dá para bater papo, folhear alguns livros, ler um pouco, decidir comprar mais um livro além do lançamento em questão...

Antes de continuar, vejam a cena linda que presenciei hoje cedo. 6:30 da manhã e Tomás saiu sonolento do quarto para ir tomar seu leite antes de ir para escola. Normalmente, carrega com ele algum boneco para ficar inventando histórias, lutando ao lado do copo de leite e me proporcionando momentos de tensão. Hoje fiquei duplamente feliz e emocionada. Não teve luta e, no lugar dos bonecos, ele levou um livro! Tomou leite lendo!!!

Bom, após o breve parênteses, vamos ao evento mais recente...

Domingo passado, foi dia do nosso terceiro evento literário do mês. Livraria da Vila, na Vila Madalena, lançamento de "O Livro Sem Rimas de Maria", escrito por Lázaro Ramos e ilustrado por Maurício Negro. O livro é uma delícia, leve, divertido e com um visual lindo, Maurício fez um trabalho incrível. Foi um prazer estar perto de Lázaro Ramos e descobrir que, além de um ator/escritor talentoso, é uma pessoa com um astral ótimo, espontâneo, alegre e atencioso. A tarde de autógrafos foi em 'ritmo baiano', sem pressa, com muita conversa com cada um da fila e com  muitas risadas.

Ficamos um bom tempo na fila, lemos alguns livros, conversamos, lemos mais um pouco, ficamos com dor nas pernas e nas costas, ficamos com fome e então já estava quase na nossa vez...

Observando atentamente as pessoas à nossa frente, naquela ansiedade para o fim da espera, vimos uma menina, que devia ter uns 12 anos, entregar o livro para ser autografado e falar "Lázaro, eu canto!". Ele, super receptivo, divertiu-se com a apresentação inusitada e respondeu "ah, não acredito! Só acredito se você cantar pra mim!". A menina ficou tímida e ele, descontraído, falou que era brincadeira, bateu um papo rápido, abraçou e ela foi embora. 

Logo em seguida, outra menina, aparentemente da mesma idade, apresentou-se com a mesma frase: "oi, eu sou a ****** e sou cantora!" (ué?! Era fila de autógrafo ou teste para o "The Voice Kids"?!). Lázaro reagiu da mesma forma, brincalhão. A menina, séria, focada, continuou com um texto, que parecia decorado pela falta de naturalidade .... Perguntou se ele topava gravar um vídeo com ela. Porém,esqueceu de avisar que o vídeo não era COM ela... era um vídeo DELA, falando sem parar, com Lázaro ao lado. A impressão era de que Lázaro era cenário do vídeo, um "hashtag" para a futura postagem que ela faria nas redes sociais.

Poxa, gente, não quero parecer ranzinza, mas não consigo achar normal, bonitinho, esse modismo de crianças blogueiras, crianças "famosas", crianças que repentinamente tornam-se artistas, ganham seguidores (!!!) fazendo vídeos com falas pedantes e sem conteúdo. Esse deslumbramento, falta de humildade e, principalmente, de bom senso, me incomoda demais. Ao ir a um evento, acho fundamental respeitar o artista, não tentar aparecer mais do que ele...

Lamento que pais de crianças cantoras, modelos, atrizes, youtubers, blogueiras, escritoras (!!! já repararam a quantidade de livros escritos por crianças e adolescentes "famosos") não aproveitem, por exemplo, o privilégio de uma ida ao lançamento de um livro para, simplesmente, ler com os filhos, conversar, curtir uma tarde juntos, trocar carinho, criar mais vínculos e menos expectativas.

Relembrando o apelo feito por Criolo, em sua tão comentada (e criticada) entrevista a Lázaro Ramos há alguns anos, repito: 

"Alguém nos ajude, Lázaro, a entender".
Entender e aprender a lidar com a falta de bom senso e com o assustador encurtamento da infância. 



segunda-feira, 21 de maio de 2018

Aprendendo a olhar


Passei minha infância e adolescência em Ilhabela, litoral norte de São Paulo. Meus avós tinham uma casa no Perequê, um bairro próximo à balsa. Era um terreno enorme (enorme mesmo, não era apenas minha visão de criança), com uma casa pequena, com 2 quartos, uma varanda com uma mesa comprida, um jardim que ocupava 3/4 da área do terreno, uma casa da caseira e uma edícula com mais 2 quartos. Foi nesse espaço que tomei centenas de picadas de borrachudo, brinquei de acampar no jardim (com direito a fogão a lenha improvisado), fiz guerra de jaca (e tenho terror de jaca até hoje, do cheiro e da sensação daquela coisa gosmenta grudada no meu cabelo), me pendurei nos cipós das árvores do terreno da frente, brinquei de casa mal assombrada numa casa em construção na rua ao lado (é inacreditável nos dias de hoje, mas eu, meu irmão, meus primos e os filhos da caseira ficávamos perambulando pelas ruas sozinhos e inventando brincadeiras que deixariam pais de cabelo em pé) e tantas coisas mais...

Infelizmente a casa foi vendida. Felizmente, quem comprou foi uma escola, que manteve o jardim e até a estrutura da casa principal. Fiquei muito feliz em saber que aquele espaço, onde me diverti tanto, continua sendo aproveitado por muitas outras crianças.

Em 2017 fui com meu marido e filhos para a Ilha e quis matar as saudades da rua, do muro, das árvores, daquele meu pedacinho de infância. Para minha surpresa, estava tudo lá, exatamente como na minha memória. Não posso dizer o mesmo do bairro, porque realmente houve uma transformação por ali, muitas construções novas, muito comércio. Aliás, a ilha toda cresceu muito, mas continua linda e aconchegante. Em alguns aspectos, achei que até melhorou. Agora há um calçadão e uma ciclovia por grande parte da área urbana, parquinhos e aparelhos de ginástica nas praias.

Sofia e Tomás adoraram a viagem. Ficaram um pouco tensos com a primeira travessia de balsa. Depois, ficaram ainda mais na volta... não com a travessia, mas com a fila de 6 horas para entrar na balsa! Acabamos atravessando e dormindo em São Sebastião para que todos se recuperassem e pudessem ter energia para pegar estrada no dia seguinte (não era esse o plano inicial, mas acabou sendo gostoso). As crianças não sofreram com os famosos borrachudos (todos focaram apenas em mim, tomei picadas pela família toda...), amaram o mar tranquilo, sem ondas e fizeram descobertas que eu, mesmo após dezenas de idas à ilha não havia feito.

Não sei porque, mas minha família não tinha o hábito de ir além da "Praia do Sino", que fica na parte Norte da ilha. Em nosso passeio por lá, as crianças adoraram ouvir o som de sino saindo das pedras, mas a diversão mesmo começou quando cruzamos a minha barreira de infância e fomos em direção às praias seguintes... Praia do Oscar, Praia do Pinto, Armação. Quem nos levou para essa aventura em praias desconhecidas foi minha prima, Martha, que conhece cada pedacinho da ilha.

Martha ensinou os caminhos para chegar às praias, mostrou curiosidades no meio da mata (como aquela plantinha "dorme dorme", que você encosta o dedo e ela se fecha), entrou com as crianças no mar e nos ensinou a enxergar tartarugas. Ela disse:

- Olhem bem pro mar, prestem atenção e vocês vão perceber que está cheio de tartarugas. As pessoas nem percebem, porque não imaginam que é possível ver. Mas se você olhar com atenção, aprende a achá-las.

Foi o que fizemos. Todos concentrados olhando para o mar e, que emoção, lá estavam elas, lindas! Muitas tartarugas!!!! 

A vida é incrível. Podem demorar 40 anos, pode ser necessária uma dica especial da prima 13 anos mais nova, mas as coisas simples e lindas da vida estão por aí, basta uma mudança na forma de olhar ...






quarta-feira, 16 de maio de 2018

Cabelo cresce... mas demoraaaa

Imagino que quase todo mundo já passou por isso... 
Um belo dia você acorda decidido a mudar, ter um visual novo, quase sempre porque é um corte da moda. Nem sempre combina com seu rosto ou com seu tipo de cabelo.

Quando eu tinha 11 anos, tinha um cabelão cacheado, com corte reto, mas a moda da época era o repicado. Sem refletir muito, tive a sensacional ideia de me jogar com tudo na moda. Fui com minha avó ao salão, feliz e decidida. Achei o máximo a técnica do corte em que o cabeleireiro puxava todo o cabelo pro alto e cortava as pontas, soltava e, mágica (!), tudo repicado no melhor estilo "capacete". Estava uma porcaria, mas eu adorei. Talvez tenha gostado mais da técnica do que o corte em si, porque cheguei em casa e resolvi dar uma retocada. Peguei a tesoura e finalizei o estrago. Só lembro da minha mãe chegando em casa e indo, curiosa, ver como tinha ficado o "repicado". Ao se deparar com meu cabelo todo desigual (porque nesse dia eu tive a certeza de que não nasci para ser cabeleireira, pois simplesmente destruí meu cabelo, não tinha salvação), arregalou os olhos e falou: "o que você fez?!!! Vai ter que cortar isso!!!". Eu tentei argumentar, dizendo que pra mim estava bom, mas foi em vão. No dia seguinte voltamos ao cabeleireiro e ganhei um belo corte "joãozinho", curto, curto, curto mesmo!!!! 

Assim, aos 11 anos, eu tive que encarar a ida à escola com aquela radicalização de visual (eu era a única menina de cabelo curto da turma) não exatamente escolhida por mim... Sobrevivi.

Como já contei um pouco anteriormente no blog,,,


... Tomás, 7 anos, decidiu trocar seu cabelo cacheado por um estilo "jogador de futebol", raspadinho e com desenho de um raio na lateral. Fui tentando adiar a ida ao cabeleireiro, mas ele insistia... Acabei cedendo e lá fomos nós para a mudança de visual. Durante o corte, ele estava mais interessado no jogo de videogame do salão do que no cabelo. Ao final, percebi que estava retraído, se escondendo pelos cantos, mas achei que só estava passando por um momento de timidez, que é comum de acontecer com ele. Porém, os dias foram passando e ninguém viu mais o cabelo do Tomás. Ele colocou em uso todos seus modelos de touca... de lã, de monstrinho amarelo e de tubarão. Fofo, mas não deve estar sendo confortável, porque, apesar de estarmos no outono, tem feito bastante calor.

Então, há alguns dias, ao terminar seu banho, Tomás me pediu ajuda para se secar. Enquanto enxugava seu cabelo, aproveitei para tocar no assunto, que ele evita a todo custo, ameaça chorar se insistimos em perguntar algo a respeito do novo corte.

- Tomás, já faz uma semana que você cortou o cabelo, já cresceu um pouco, sabia?! 

Ok, eu forcei... Estava igual, mas eu não aguento mais vê-lo de touca dia e noite. Continuei:

- Está bonito. Você não vai parar de usar touca?
- Não.
- Mas você pretende usar touca até quando?
- Até meu cabelo ficar assim de novo - Disse ele, fazendo um gesto ao redor da cabeça mostrando o cabelo volumoso, estilo "black power".

Bom, então, como vocês podem perceber, teremos uma longa temporada de Tomás de touca...









Meu irmão, minha mãe e eu (com meu cabelo curto)


segunda-feira, 14 de maio de 2018

Ser mãe é um parto

Antes de ter tido filhos eu costumava usar com frequência a expressão "nossa, foi um parto..."  para situações difíceis. Depois de duas gestações, eu tenho mais respeito por essa frase.

Durante anos eu fui iludida pela minha mãe com a propaganda mais enganosa de todos os tempos! Ela repetia sempre que o parto normal é super tranquilo, não se sente nada, é rápido, não dói... Sempre contou, na maior paz do mundo, que eu nasci muito rápido, de parto normal, sem anestesia, quase sem dar tempo do médico chegar. O parto do meu irmão, foi ainda mais tranquilo, não teve médico (não deu tempo dele chegar). Segundo ela, ele nasceu no corredor da maternidade, sem dores, sem anestesia, sem stress. 

A credibilidade da palavra materna é tão forte que nem me dei conta durante anos de um pequeno detalhe... minha mãe não sente dor... nunca teve cólicas nem dor de dente, quase morreu de apendicite porque não sentia nada, mesmo com a barriga super inchada...

Assim, quando descobri que estava grávida da Sofia, a tranquilidade a respeito do parto me dominou. Nunca cogitei a cesárea (a não ser em caso de emergência, é claro), não tinha receio de dor ou de dificuldades do parto. 

Quando estava com quase 41 semanas de gestação, depois de passar uma tarde passeando pelo shopping, fazendo supermercado, andando sem parar, senti sinais de que as contrações estavam um pouco constantes demais... Minha mãe, que estava comigo, me obrigou (é sério, eu teria ficado numa boa no sofá assistindo tv) a ligar para minha médica, que, claro, disse para eu ir à maternidade.

Fui passear na maternidade, quer dizer, eu achava que seria só uma passadinha, que minha mãe e a obstetra estavam muito ansiosas à toa. Não levei mala, não levei nada. Bom, mas não me deixaram sair... me colocaram na ocitocina (para acelerar o processo) e então eu comecei a cair na real de que todo paraíso descrito pela minha mãe não seria a minha realidade.

Tive contrações violentas, que me faziam curvar o corpo todo e urrar de dor. Fiquei em baixo do chuveiro para relaxar e achei um inferno, relaxamento zero. Então, muitas horas depois. me encaminharam para sala de parto, onde me aplicaram anestesia. Tive a certeza de que ia dormir, senti tudo formigar e até esqueci o que estava fazendo ali. Mas durou pouco. No exame de toque seguinte, a bolsa estourou, e aí, adeus anestesia, adeus paz. Veio tudo de uma vez... dor indescritível, pressão absurda. Não lembro quem ou o que xinguei, mas virei um monstro, fiquei descontrolada. Sofia nasceu e eu me senti, naquele momento, a pior mãe do mundo, porque não vivi aquela cena poética de novela em que a mãe olha o bebê e chora de emoção. Eu estava exausta, acabada e chocada com a dor inesperada. Olhei a Sofia, vi que estava bem e só senti alívio.

Mas fiquem calmas! Para aquelas que sonham em ter um parto normal, agora vem a parte boa. Fui para o quarto logo em seguida e, umas 3 horas após o parto, eu estava de pé, tomando banho sozinha, andando pelo quarto, tomando café da manhã (o meu e o do meu marido!), amamentando a Sofia e, dois dias depois, eu estava em casa, bem disposta, sem corte na barriga e até cogitando um segundo filho com parto normal.

Não apenas cogitei...Tomás nasceu, dois anos depois, num parto ainda mais normal. O primeiro sinal de que estava na hora dele nascer foi às 3h da madrugada e ele chegou às 6h, foi muito rápido. A dor durante o parto felizmente não aconteceu, pois a anestesia funcionou dessa vez, mas, até ser anestesiada, lembrei muito do parto da Sofia, porque as contrações foram enlouquecedoras novamente. No dia seguinte, embora estivesse com uma dor de cabeça horrorosa causada pela anestesia, estava bem disposta como no nascimento da Sofia. Fui embora da maternidade 2 dias depois, dirigindo meu carro e deixando o manobrista chocado.

Não vou dizer que o parto normal é uma tranquilidade, como minha mãe me contava, mas, além de ser o processo natural do corpo, é suportável (estou viva, sem traumas e encarei a segunda experiência), não é invasivo, a recuperação é maravilhosa e só quem passou por ele pode usar com total consciência do significado e nas situações mais apropriadas a frase "nossa, foi um parto".










quinta-feira, 10 de maio de 2018

Sem querer, casei no "mês das noivas"

Há pouco mais de 10 anos eu descobri que estava grávida da Sofia. Foi aquele confusão de sentimentos...susto, alegria, medo e tantas coisas mais.  O que eu não esperava era o que vinha na sequência... Eu, toda precavida como sempre, quis me adiantar, pesquisar, no meu seguro saúde, maternidade e obstetra. Liguei na central de  atendimento da seguradora, já com lápis e papel na mão, para anotar as opções. Porém, não tinha nada para anotar, eu não tinha OPÇÕES! Não havia cobertura de parto, era um plano familiar antigo no qual era opcional esse tipo de cobertura!!! Opa, que alegria!!! Podem imaginar que fiquei bem tranquila, claro... Após um período de pânico, tudo se ajeitou. A gestação seguiu em paz, sem sustos.

No 6º mês resolvi ir atrás de mais uma questão burocrática: a inclusão da Sofia no meu NOVO plano (porque é claro que fui obrigada a dar uma atualizada no plano antigo, sem cobertura de parto, que eu tinha desde criança). Então descobri que, para que ela entrasse como minha dependente, por questões legais, eu precisava apresentar minha certidão de casamento à seguradora. Simples. Só tinha um detalhe... eu não era casada... não formalmente.

Casamento formal, com ou sem cerimônia, nunca fez parte dos meus sonhos ou necessidades. Por que oficializar, para que colocar uma aliança? Nunca vi sentido nisso. Pra mim o casamento existe desde o momento em que se divide o mesmo espaço com a pessoa que você escolheu estar, não precisa de documento, anel ou fotos. Não precisa provar ou mostrar nada para ninguém. Porém, descobri que, quando um filho entra na jogada, nem sempre o que a gente acredita, e gostaria, é o que vai de fato fazer. 

E assim, com zero romantismo, zero elegância (me dei conta da tragédia do meu figurino de "noiva grávida" esses dias, revendo minhas fotos), zero planejamento, eu e o Giva casamos, no civil, dia 10 de maio de 2008.

Minha mãe me contou que na hora em que o juiz encerrou a cerimônia no cartório desejando que "a Nossa Senhora do Bom Parto te proteja", minha avó Lydia, que estava ao lado dela, inconformada, falou:

- Nunca imaginei ver minha neta casando assim...

Achei engraçado. Ela sempre foi super sincera e com certeza sei que estava feliz, mas devia achar que, sendo eu a única neta que tinha (depois nasceram só meninos na família!), devia ter tido um casamento "mais alinhado" (achava muito engraçado esse adjetivo que ela usava), devia ter entrado na igreja, linda, de branco, sem aquele barrigão escandaloso..

No cartório, sem festa, com barrigão e figurino lamentável, sem aliança (até hoje! não usamos e não sentimos falta), o que importa é que isso tudo já aconteceu há 10 anos e estamos firmes e fortes, juntos há 15 anos (já estávamos juntos 5 anos antes de assinar um documento), com 2 filhos lindos, 1 gata de 19 anos, morando no nosso terceiro endereço (ou seja, o casamento sobreviveu a duas mudanças e algumas reformas!), sempre com muito diálogo, respeito, companheirismo e muito amor.



terça-feira, 8 de maio de 2018

Há dores que se curam com café

São poucos segundos. O telefone toca e o número do colégio aparece. O coração dispara, a imaginação me tortura com várias suposições que justifiquem aquela ligação. Respiro, rezo (mentira, não dá tempo) e atendo.

Não que essa situação seja super frequente, mas, o número do colégio aparecendo na tela do meu celular, tornou-se motivo de tensão desde que recebi a seguinte ligação há uns 3 anos:

- Boa tarde. É a Sra Aline, mãe do Tomás?

Normalmente, quando o assunto não é um "B.O.", a frase continua assim: "Está tudo bem com a Sofia e o Tomás... Estamos ligando para.... blá blá blá...". Alívio.

Porém, naquela tarde, faltou essa parte do "está tudo bem". A conversa continuou assim:

- O Tomás se machucou um pouco no gira gira do parquinho. Já foi para a enfermaria e foi feito um curativo.
- Mas ele está bem? O machucado foi grave?
- Olha, seria melhor a senhora levá-lo ao hospital para dar uma olhadinha...

OK, não precisei de mais detalhes. Em alguns minutos eu estava na escola para buscar a criança, que, logo em seguida, já no hospital, tomou uns 6 pontos na testa.

Desde então, não consigo me manter 100% tranquila com chamadas do colégio, principalmente porque de 10 ligações, 10 são da enfermaria... Normalmente as reclamações são da Sofia. Dor de cabeça, dor de barriga, dor de garganta, acidentes de percurso na aula de educação física ... Dores que normalmente passam com  um gelinho ou uma Novalgina.

Na semana passada me ligaram do colégio logo após o almoço (sendo que o horário de saída das crianças naquele dia seria só no final da tarde). Alguns segundos de stress até saber o motivo da ligação: Sofia estava com dor de cabeça e dor de garganta. Considerando que estamos num outono super seco e eu mesma tenho sentido dor de cabeça, de garganta, olhos ardendo com frequência, orientei a enfermeira da escola a dar um remédio para dor e pedir para a Sofia tomar muita água. Expliquei que estava trabalhando e que só poderia buscá-la mais tarde. Sofia quis falar comigo:

- Mamãe, eu estou com muita dor, não estou me sentindo bem - Disse ela aos prantos. Chorava muito mesmo...

Tentei acalmá-la, pedi que tomasse o remédio e bastante água. Expliquei que mais tarde a buscaria.

Desliguei o telefone já me sentindo arrependida. Algo me dizia que ela não precisava de água nem de Novalgina... Liguei para a escola e pedi para avisarem que buscaria a Sofia mais cedo (só a Sofia. Tomás poderia continuar no horário normal). 

Algum tempo depois, passei na escola para buscá-la. Tivemos um fim de tarde "só de meninas". Bate papo na cafeteria favorita dela, um cappuccino especial de Nutella, muito carinho e... vejam só, mais nenhuma reclamação sobre dor de qualquer tipo... 

Há dores que se curam com um café... 





sexta-feira, 4 de maio de 2018

Tímidos não... discretos

Ontem Tomás me pediu para levá-lo para cortar o cabelo, que estava bem comprido, super cacheado (eu adoro!). Decidiu raspar curtinho e fazer o desenho de um raio novamente, mesmo corte que fez no começo do ano. Corte ousado, mas fofo, acho que o rostinho dele aparece mais com o cabelo bem curto.  Ele, assim como da outra vez, estava decidido, então levei. Cabelo cortado. Com raio!

Acredito que, quando decidiu cortar ontem,  ele não se lembrou que hoje haveria uma apresentação de trabalho no colégio. Detalhe: além da turma dele, as outras duas turmas do 2º ano e TODOS os pais estariam presentes. A solução encontrada por ele para não chamar atenção de tanta gente ao mesmo tempo com seu corte novo (considerando que o momento já é suficientemente tenso com a apresentação de trabalho em público), foi sair de casa com uma touca de monstrinho, nada discreta, bem amarela.

A apresentação foi descontraída, os trabalhos estavam lindos. Nas fotos que foram feitas pelo colégio e pelos pais, nenhuma dificuldade em localizar o Tomás, com seu monstrinho amarelo na cabeça.

Me enxergo muito no Tomás. Embora eu ache que era mil vezes mais tímida e que sofria muito mais do que ele, em algumas situações, vejo uma repetição de comportamento.

No ano passado fui a um show do cantor/compositor pernambucano Junio Barreto. Estava tranquila, dançando no meu cantinho, quando meu cunhado resolveu me apresentar uma cantora que é conhecida dele e que gosto bastante, a Karina Buhr. Essas situações são bastante contraditórias para mim... fico emocionada, feliz em poder conhecer o artista que admiro, mas, ao mesmo tempo, morro de vergonha, me fecho e fico sem saber o que dizer. Me sinto como descreveu a Vanessa da Mata, em vídeo postado no Instagram dela, no dia em que foi ao camarim do Chico Buarque, "a pessoa pensa em mil coisas inteligentes para impressionar seu ídolo, para mostrar que é interessante e, na hora, fica completamente burra".

Voltando ao momento em que fui apresentada à Karina Buhr...

Meu marido, que estava ao meu lado, me vendo muda ao ser cumprimentada por ela, falou:

- Karina, ela é super sua fã, mas é tímida.

Eu criei coragem e me defendi:

- Não sou tímida, sou DISCRETA.

Karina me deu um abraço e, antes de ir embora, disse:

- Adorei!!!! Vou começar a usar essa frase!

Refletindo sobre o que aconteceu hoje, acho que a touca, na visão do Tomás, seria mais discreta do que seu corte ousado com desenho de raio. Não sei se funcionou... mas pra ele sim...


O raio
A touca


quarta-feira, 2 de maio de 2018

Chora, Aline, chora...

Que curiosa é a vida...

Todo santo dia eu escuto o programa "Som a Pino", da Roberta Martinelli, na Radio Eldorado. Canto, choro, dou risada, anoto dicas, descubro cantores/compositores novos para acompanhar seus trabalhos... Além disso, participo, escrevo comentários na transmissão ao vivo pelo Facebook, dou "likes", já mandei áudio pedindo minha "música mais maravilhosa", mandei também um texto para um programa especial sobre memórias musicais.

Por ironia do destino, quarta-feira passada, dia 25/04, eu, excepcionalmente, não estava ouvindo o programa e colocaram no ar meu áudio pedindo minha "Música Mais Maravilhosa". Descobri ouvindo a gravação do programa algum tempo depois.

Hoje, uma semana depois, novamente quarta-feira, novamente (e infelizmente) não sintonizada, recebi um presentão! O presente foi aberto com atraso, depois do programa ter ido ao ar (ainda bem que hoje em dia temos a chance de ouvir de novo, ver de novo, tudo fica gravado, disponível na internet).  

Roberta simplesmente ABRIU o programa de hoje, que teve participação da apresentadora Sarah Oliveira,  lendo o texto que escrevi em meu blog: 



Depois da leitura, pra encher ainda mais meu coração de alegria e, definitivamente, me fazer chorar, Sarah elogiou, de forma muito carinhosa, meu texto, minha forma de escrever.

O que eu posso dizer? Obrigada, muito obrigada!!!!

Pra quem quiser ouvir/assistir, segue o link do programa de hoje: 


Roberta Martinelli e Sarah Oliveira


De onde viemos - parte 2

Na semana passada, voltando do colégio, Sofia me contou que tinha tido uma aula sobre sistema respiratório e que a professora foi bombardeada com perguntas do tipo:

"É verdade que as mulheres tem dois buraquinhos, um por onde sai o xixi e outro por onde sai a menstruação?"
"Como os bebês vão parar na barriga da mãe?"
"Por onde o bebê sai no parto normal?"

Eu sou distraída, mas tive a impressão de que tinha ouvido ela me dizer que a aula foi sobre sistema RESPIRATÓRIO...

- Sofia, você não falou que a aula era sobre sistema respiratório? Não está meio estranho isso?
- Pois é... mas daí meus amigos começaram a fazer essas perguntas e deixaram a professora maluca...
- E o que ela respondeu?
- Ela falou que tem muitos pais que acham cedo falar sobre esses assuntos e que não ia responder ainda.

Fiquei pensando sobre isso... Em que mundo esses pais vivem? As crianças tem acesso diário a tablets, celulares, internet... basta uma breve pesquisa no Google para descobrirem tudo o que precisam e, pior, acompanhado de um monte de besteiras totalmente dispensáveis. Será que não seria melhor, e mais educativo, explicar de uma vez, de forma acessível, adequada à idade e acalmar essa curiosidade toda? 

Dias depois desse papo no carro, eu estava no quarto da Sofia procurando algo na televisão e decidi (sem pretensão educativa, mas porque gosto mesmo) ver uma série da GNT que se chama "Boas Vindas". São diversas histórias sobre gestação e parto, com casais heterossexuais e homossexuais. Teve de tudo... inseminação artificial, barriga de aluguel no Nepal, nenhum parto normal e dezenas de cesáreas... 

Os bebês saindo da barriga, aberta na cesárea, causou horror na Sofia, mas ela continuou interessada no programa mesmo assim. Tomás, que estava na sala até então, ficou curioso ao ouvir os comentários da irmã, do tipo "credoooo", "que horror", "ai, que nojoooo" e juntou-se a nós. Sentou ao meu lado, interessado, concentrado nas histórias. 

Logo chegou o momento de mais um parto. Cesárea, novamente. Tomás não se impressionou muito com o corte, sangue e afins, porém, ao ver o bebê sendo retirado da barriga da mãe, arregalou os olhos e deu um grito, horrorizado:

- Mãe, eu também tinha RABOOOO quando nasci?

E assim ele descobriu que os bebês tem cordão umbilical...

Ah! Antes que eu me esqueça... Sofia quis mostrar que sabe tudo sobre cordão umbilical e respondeu:

- Não, Tomás, isso não é rabo!!! É o umbigo reserva!