domingo, 20 de dezembro de 2020

Não sei, só sei que foi assim

Faltam apenas 11 dias para o ano acabar. 

Vou tentar resumir nesse primeiro (e único) texto do ano, o que foram esses longos 12 meses. 

2020 poderia ter sido uma ficção surrealista de Suassuna. Pensando bem, acho que não, pois o incrível Suassuna daria muito mais leveza e humor aos fatos e personagens.

Talvez 2020 esteja mais para Saramago. Me peguei lembrando muitas vezes, durante esses intermináveis meses, de dois livros dele:  "Ensaio sobre a Cegueira" e "As Intermitências da Morte". Em "As Intermitências da Morte", por exemplo, a narrativa inicia-se com a seguinte frase: "No dia seguinte ninguém morreu" e assim seguiu-se durante a narrativa toda. Infelizmente, ao contrário da história de Saramago, em 2020 apenas no Brasil, desde março, quase 190 mil pessoas morreram vítimas da covid-19.

A pandemia, que tornou 2020 um pesadelo interminável, pode não parecer real, de tão assoladora  e paralisante. O mundo parou, a quarentena de algumas semanas estendeu-se por meses, famílias e amigos encontraram-se apenas por video chamadas, muitos negócios fecharam,  máscaras e álcool viraram acessórios obrigatórios. 

Para muitos, a pandemia de fato não é real. Assim, além de convivermos com um vírus agressivo, há o desafio de vivermos rodeados por negacionistas, que insistem em dizer que é apenas uma "gripezinha". Eles andam por aí sem máscara (ou com ela no queixo) e completam a postura vergonhosa afirmando que a terra é plana e outras pérolas da doutrina do guru Olavo de Carvalho.

Mas não vou fazer do meu primeiro e único texto do ano um relato de tudo o que já cansamos de ler e ouvir por aí. Nem ficar citando nomes como esse acima, que causam extremo mal estar.

Por aqui, além de todo o peso de 2020, tivemos vários momentos de leveza também.

Vivemos todas as datas festivas em casa, apenas nós quarto (ops! 5, porque a Onze está sempre junto), tentando manter os rituais, as decorações, a alegria de cada data. 

Ficamos com o olhar mais atento. Notamos mais os pássaros do bairro (em abril eles fizeram uma verdadeira dança diária em cima de uma árvore frutífera), as diferenças de cada pôr do sol e a fúria das tempestades.

Tivemos serenata virtual através do projeto "Adote o Artista". E também serenata real, com um vizinho violinista se apresentando no terraço de um prédio. Houve até uma serenata ambulante, com um aspirante a cantor perambulando pelo bairro com uma caixa de som num carrinho usando fantasia de Papai Noel.

As aulas à distância foram muito bem sucedidas. O home office idem. Ah, descobri que é possível fazer exercício pelo Youtube!

Assistimos dezenas de séries! Entre elas: "This is Us", "Sex Education", "Fleabag", "Grey's Anatomy", "Orphan Black", "Rita", "Anne with an e"...

Me tornei uma consumidora voraz de podcasts! Entre eles: "Retrato Narrado" (tema desagradável, produção impecável), "Trip FM", "É Nóia Minha", "Calcinha Larga", "Gama Revista", "Foro de Teresina" e "Daria um Livro".

Rolou muito artesanato. Pintura em tela, pintura na parede, pintura em almofada, camiseta tye dye. Muita culinária também! Sofia virou nossa confeiteira oficial da família.

Aprendemos a dar banho na Onze em casa! E Sofia aprendeu a pintar cabelo em casa! Fez mechas rosa no cabelo dela e retocou a minha raiz. Nesse caso, eu me dei bem, muito bem, já que odeio ir a salão de cabeleireiro. 

Descobrimos que dá para tomar sol (com cadeira de praia) no quarto. 

Pois é, há como fazer quase tudo em casa, mas não há nada como a liberdade de escolha. Prefiro, daqui para frente, poder escolher fazer ou não em casa tudo o que descobrimos ser possível em 2020.

Desejo para esse bem-vindo 2021 que seja, para todos nós, um ano com mais leveza, com muita saúde, vacinas bastante eficazes e acessíveis a todos, lucidez, coerência, bom senso, compaixão, empatia, igualdade e paz. 

Que em 2021 todos os abraços e beijos não dados nesse ano que termina possam ser entregues em dobro!!!