quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Chamego

Quando os filhos nascem parece que é ativado um botão de modo automático nas mães (e/ou alguns pais). Troca fralda, amamenta, dá banho, coloca pra dormir, responde mil vezes ao chamado "ô, mãããe!!!" e por aí vai... As tarefas são infinitas e repetitivas.

Os anos passam, os filhos crescem e de repente você se dá conta de que, mesmo já estando quase da sua altura, eles ainda repetem hábitos de quando mal sabiam falar. Analisem a situação a seguir...

Eu, num dia de extremo cansaço, tentava finalizar as tarefas do dia e, finalmente, ir jantar, tomar banho, dormir. Os planos foram interrompidos por um chamado (gritado):

- MÃÃÃEEEEEEE

Respirei fundo, parei o que estava fazendo e fui verificar porque estava sendo chamada.

Era Sofia, no chuveiro.

- Mãe, ajuda a me secar?
- Poxa, Sofia, você está tão grande, sabe fazer um monte de coisas sozinha... Eu tenho tanta coisa para fazer ainda, não consegui nem jantar. Por que não me dá uma folga, sai do banho e se seca sozinha?!

Ela ficou calada, meio sem graça, pegou a toalha e se secou.

Um tempo depois, novo chamado:

- MÃÃÃEEEEEEE

Dessa vez era o Tomás. Também saindo do banho, também pedindo ajuda para se secar. Repeti o mesmo discurso que havia feito há pouco tempo para a Sofia, mas Tomás insistiu...

- Ah, mas eu gosto que você me ajude.
- Tomás, mas você já sabe se secar. Seja sincero, você não quer ajuda... quer um chamego, um carinho, né? - Ele sorriu, concordando e se secou sozinho.

Dia seguinte. Mesma horário, mesma correria e, novamente, chamada duas vezes seguidas. Porém, de uma nova forma:

- MÃÃÃEEEEEEE, vem me dar CHAMEGOOOOO.

Pronto, já era... quem mandou dar ideia... vou ter que secá-los pro resto da vida...



segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Um dia nunca foi tão cinza como hoje


Nunca uma segunda-feira foi tão cinza.... Sim, amanheceu nublado e com garoa, mas o cinza é muito mais intenso do que o normal. Não está apenas no céu, mas por toda parte.

São 46,03% que deixaram escuridão pelo caminho. São 46,03% que estão por todo lado. Pode ser um vizinho, um amigo, um parente, o segurança do colégio, seu chefe, o padeiro, o motorista do Uber... enfim, quase metade das pessoas ao seu redor teclaram 17 na urna eletrônica para "eliminar o PT" do poder. Infelizmente o que se revela é que o ódio implícito nessa justificativa de voto não se restringe ao partido, à crise econômica. 

O que se mostra a cada dia é que teclar o 17 significa muito mais do que uma escolha política. Teclar 17 faz com grande parte desses 46,03% sinta-se à vontade para colocar seus monstros para fora... xingar nordestinos, ameaçar mulheres, negros, lgbts e "macumbeiros", fazer vídeos portando armas e comemorando que, em breve, essas podem estar liberadas para os "cidadãos de bem" se protegerem...

Sou mulher, tenho filhos, sou casada com um nordestino, tenho muitos amigos gays e negros, frequento centro de umbanda... e por aí vai... O que sinto hoje, além de muito medo pelo futuro de todos nós, é uma tristeza enorme. Realmente não faz sentido, não consigo compreender de onde vem tamanha raiva, tamanha aversão ao outro, tamanha preocupação com a vida ou aparência alheia, tamanha crueldade. Já passou dos limites da discussão política. Não é mais apenas um infantil Fla x Flu. Infelizmente vai muito além disso, é uma regressão. Fere a alma, dói, machuca de verdade.

Ah, claro, ainda há um segundo turno. 
Não importa. 
O resultado parece ser bem previsível, mas, mesmo que uma reviravolta aconteça, não há o que comemorar. 
O lado sombrio, sinistro, desumano de milhares de pessoas foi colocado escancaradamente para fora. Andar na rua nessa segunda-feira cinzenta foi triste, pois a cada pessoa que passou por mim só me vinha uma inevitável pergunta na mente: "será que você faz parte dos 46,03% que acharia ok me agredir (ou alguém da minha família) fisicamente ou moralmente por questões raciais, sexuais ou religiosas?".

Em meio à tristeza, decepção e ao medo, só posso tentar desejar que algum dia tenhamos uma porcentagem maior de pessoas que optem por evolução, amor, respeito e paz.  



quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Uber


A Lei de Murphy nunca falha. Quando o carro decide te deixar na mão? Numa terça-feira 11h da manhã perto do mecânico? Claro que não... Na sexta-feira à noite é bem mais legal! 

E então, na última sexta-feira, o pedal da embreagem "afundou" (percebam que eu sou bem técnica, entendo bastante de mecânica) e o carro ficou parado até segunda-feira, quando foi direto para a oficina mecânica.

Cinco dias a pé, com duas crianças e mil compromissos. Ainda bem que existe carona, taxi e Uber! 

Curiosamente algo bem estranho aconteceu... Ou estou sendo espionada ou o mecânico tem contato direto com a Uber, avisando a empresa de que eu seria uma cliente em potencial nos dias seguintes. Logo após deixar o carro, indo a pé para o trabalho, recebi um SMS com o seguinte aviso:

"Uber: você ganhou 15% OFF nas suas próximas 10 viagens (...)"

Coincidência ou não, veio em boa hora e foi super útil (e econômico)!

Ontem, carro pronto, busquei as crianças no colégio. No caminho de casa, Sofia me perguntou:

- O carro ficou bom, mãe?
- Ficou ótimo!

Tomás entrou na conversa:

- Sabe, mãe, eu acho que não fizeram nada!
- Por que, Tomás?
- Eu não estou vendo NADA de diferente aqui!!!

Talvez ele estivesse esperando, no mínimo, receber o carro com umas balinhas, nos compartimentos do carro, no estilo Uber ...