terça-feira, 9 de abril de 2019

20 anos

Ontem a veterinária me disse: "a morte é a única certeza que nós temos...".
Sim, ela estava certa. Mas a outra grande certeza é de que temos todo o resto dos dias para viver da melhor forma que pudermos. E por todos esses outros dias possíveis, eu tenho certeza de que fiz a melhor escolha em 1999.

Há 20 anos eu tinha acabado de ir morar sozinha, num apartamento alugado na Vila Madalena, quando decidi procurar 2 gatos para adotar. Sim, 2, porque sempre me disseram que, em apartamento, os gatos ficam mais felizes se tiverem companhia sempre. E lá fui eu, com minha mãe, procurar os gatinhos. 

Paramos em um petshop perto de onde eu morava, perguntamos se sabiam onde eu poderia adotar gatos. A veterinária falou: "temos uma gatinha aqui, que foi encontrada na rua, deve ter uns 3 meses". E lá estava ela, de vestidinho cor de rosa, esperando por mim. Assim a Nina entrou na minha vida.

Como o plano era de ter 2, seguimos na missão, rumo a um apartamento em Higienópolis, onde, segundo a veterinária do petshop, uma senhora tinha dezenas de gatos para doação. Realmente eram dezenas, gatos por todos os lados num apartamento enorme. Minha mãe se encantou por um gato minúsculo, branco com manchas cinzas, super sujo, com um cocô na cabeça. Limpamos o coitado, que minha mãe dizia ter potencial, que seria um gato lindo (e foi!!!) e o levamos para ser o irmão da Nina. Esse era o Chico.

Nina e Chico estiveram ao meu lado em 3 mudanças de apartamento, altos e baixos profissionais, ganharam o Giva, um pai muito carinhoso, em 2003, 2 irmãos humanos em 2008 e 2010. 

Em 2012, Chico ficou doente e nos deixou. Porém, Nina, sempre linda e forte continuou ao nosso lado dando carinho em dobro. 

Ano passado Nina ganhou uma irmã canina, a Onze. Não sei se ela amava a Onze, mas o contrário é uma certeza... Onze balançava o rabo pra ela, lambia a Nina inteira, dando uma atenção especial ao rabo, que enfiava inteiro na boca e ia soltando conforme a Nina andava. Essa cena acontecia diariamente, seguida por um banho de lenço umedecido na gata.

Nos últimos meses nossa idosinha começou a dar sinais de que não estava mais com a saúde de sempre. Em 20 anos ela só foi ao veterinário para vacinas e para tratar 2 problemas: uma unha encravada e uma verruga na perna. Porém, a idade pesou para a Ninoca e há alguns meses ela começou a emagrecer muito, ficar bem fraquinha. Mesmo assim, sempre que ouvia a voz de alguém da família ela saía da caminha e andava até nós para dar e receber carinho.

Ontem não foi diferente. Pela manhã ela ainda saiu da cama, veio atrás de mim, deixou a Onze lambê-la da cabeça ao rabo e voltou para a cama. Infelizmente não conseguiu sair mais de lá. No final da tarde, recebendo carinho meu e do Tomás, Nina partiu suavemente.

Sim, foi duro. Está sendo. Ficou um vazio. Sofia e Tomás choraram muito, estão sofrendo. Mas os 20 anos ficam, repletos de histórias, de boas lembranças, de muito amor, de fotos lindas...

Ontem, logo que ela morreu, Tomás falou: "hoje o Corinthians vai ganhar o jogo. Pela Nina.".

Depois, pensou alto: "acho que amanhã não vou conseguir ir ao futsal... Mas acho que vou sim... e vou fazer um gol para Nina". 

E então, sem eu perceber, ele guardou o brinquedinho favorito dela, uma bolinha de borracha, que a Onze comeu metade. Quando vi a bola no quarto, perguntei porque estava lá e ele disse: "vou guardar para sempre, para nunca esquecer da Nina".

Nossa gata tornou-se o anjinho da sorte do Tomás. Ontem, logo depois de a deixarmos na clínica veterinária para cremação, ele quis passar na banca de revistas em frente para comprar figurinhas. Abriu o primeiro pacote e veio a figurinha mais desejada! Do Messi! E ainda mais 2 brilhantes no mesmo pacote. 

E algumas horas depois... sim, como Tomás previu... o Corinthians ganhou a semifinal do Campeonato Paulista. 

Pela Nina.