segunda-feira, 14 de maio de 2018

Ser mãe é um parto

Antes de ter tido filhos eu costumava usar com frequência a expressão "nossa, foi um parto..."  para situações difíceis. Depois de duas gestações, eu tenho mais respeito por essa frase.

Durante anos eu fui iludida pela minha mãe com a propaganda mais enganosa de todos os tempos! Ela repetia sempre que o parto normal é super tranquilo, não se sente nada, é rápido, não dói... Sempre contou, na maior paz do mundo, que eu nasci muito rápido, de parto normal, sem anestesia, quase sem dar tempo do médico chegar. O parto do meu irmão, foi ainda mais tranquilo, não teve médico (não deu tempo dele chegar). Segundo ela, ele nasceu no corredor da maternidade, sem dores, sem anestesia, sem stress. 

A credibilidade da palavra materna é tão forte que nem me dei conta durante anos de um pequeno detalhe... minha mãe não sente dor... nunca teve cólicas nem dor de dente, quase morreu de apendicite porque não sentia nada, mesmo com a barriga super inchada...

Assim, quando descobri que estava grávida da Sofia, a tranquilidade a respeito do parto me dominou. Nunca cogitei a cesárea (a não ser em caso de emergência, é claro), não tinha receio de dor ou de dificuldades do parto. 

Quando estava com quase 41 semanas de gestação, depois de passar uma tarde passeando pelo shopping, fazendo supermercado, andando sem parar, senti sinais de que as contrações estavam um pouco constantes demais... Minha mãe, que estava comigo, me obrigou (é sério, eu teria ficado numa boa no sofá assistindo tv) a ligar para minha médica, que, claro, disse para eu ir à maternidade.

Fui passear na maternidade, quer dizer, eu achava que seria só uma passadinha, que minha mãe e a obstetra estavam muito ansiosas à toa. Não levei mala, não levei nada. Bom, mas não me deixaram sair... me colocaram na ocitocina (para acelerar o processo) e então eu comecei a cair na real de que todo paraíso descrito pela minha mãe não seria a minha realidade.

Tive contrações violentas, que me faziam curvar o corpo todo e urrar de dor. Fiquei em baixo do chuveiro para relaxar e achei um inferno, relaxamento zero. Então, muitas horas depois. me encaminharam para sala de parto, onde me aplicaram anestesia. Tive a certeza de que ia dormir, senti tudo formigar e até esqueci o que estava fazendo ali. Mas durou pouco. No exame de toque seguinte, a bolsa estourou, e aí, adeus anestesia, adeus paz. Veio tudo de uma vez... dor indescritível, pressão absurda. Não lembro quem ou o que xinguei, mas virei um monstro, fiquei descontrolada. Sofia nasceu e eu me senti, naquele momento, a pior mãe do mundo, porque não vivi aquela cena poética de novela em que a mãe olha o bebê e chora de emoção. Eu estava exausta, acabada e chocada com a dor inesperada. Olhei a Sofia, vi que estava bem e só senti alívio.

Mas fiquem calmas! Para aquelas que sonham em ter um parto normal, agora vem a parte boa. Fui para o quarto logo em seguida e, umas 3 horas após o parto, eu estava de pé, tomando banho sozinha, andando pelo quarto, tomando café da manhã (o meu e o do meu marido!), amamentando a Sofia e, dois dias depois, eu estava em casa, bem disposta, sem corte na barriga e até cogitando um segundo filho com parto normal.

Não apenas cogitei...Tomás nasceu, dois anos depois, num parto ainda mais normal. O primeiro sinal de que estava na hora dele nascer foi às 3h da madrugada e ele chegou às 6h, foi muito rápido. A dor durante o parto felizmente não aconteceu, pois a anestesia funcionou dessa vez, mas, até ser anestesiada, lembrei muito do parto da Sofia, porque as contrações foram enlouquecedoras novamente. No dia seguinte, embora estivesse com uma dor de cabeça horrorosa causada pela anestesia, estava bem disposta como no nascimento da Sofia. Fui embora da maternidade 2 dias depois, dirigindo meu carro e deixando o manobrista chocado.

Não vou dizer que o parto normal é uma tranquilidade, como minha mãe me contava, mas, além de ser o processo natural do corpo, é suportável (estou viva, sem traumas e encarei a segunda experiência), não é invasivo, a recuperação é maravilhosa e só quem passou por ele pode usar com total consciência do significado e nas situações mais apropriadas a frase "nossa, foi um parto".