terça-feira, 8 de maio de 2018

Há dores que se curam com café

São poucos segundos. O telefone toca e o número do colégio aparece. O coração dispara, a imaginação me tortura com várias suposições que justifiquem aquela ligação. Respiro, rezo (mentira, não dá tempo) e atendo.

Não que essa situação seja super frequente, mas, o número do colégio aparecendo na tela do meu celular, tornou-se motivo de tensão desde que recebi a seguinte ligação há uns 3 anos:

- Boa tarde. É a Sra Aline, mãe do Tomás?

Normalmente, quando o assunto não é um "B.O.", a frase continua assim: "Está tudo bem com a Sofia e o Tomás... Estamos ligando para.... blá blá blá...". Alívio.

Porém, naquela tarde, faltou essa parte do "está tudo bem". A conversa continuou assim:

- O Tomás se machucou um pouco no gira gira do parquinho. Já foi para a enfermaria e foi feito um curativo.
- Mas ele está bem? O machucado foi grave?
- Olha, seria melhor a senhora levá-lo ao hospital para dar uma olhadinha...

OK, não precisei de mais detalhes. Em alguns minutos eu estava na escola para buscar a criança, que, logo em seguida, já no hospital, tomou uns 6 pontos na testa.

Desde então, não consigo me manter 100% tranquila com chamadas do colégio, principalmente porque de 10 ligações, 10 são da enfermaria... Normalmente as reclamações são da Sofia. Dor de cabeça, dor de barriga, dor de garganta, acidentes de percurso na aula de educação física ... Dores que normalmente passam com  um gelinho ou uma Novalgina.

Na semana passada me ligaram do colégio logo após o almoço (sendo que o horário de saída das crianças naquele dia seria só no final da tarde). Alguns segundos de stress até saber o motivo da ligação: Sofia estava com dor de cabeça e dor de garganta. Considerando que estamos num outono super seco e eu mesma tenho sentido dor de cabeça, de garganta, olhos ardendo com frequência, orientei a enfermeira da escola a dar um remédio para dor e pedir para a Sofia tomar muita água. Expliquei que estava trabalhando e que só poderia buscá-la mais tarde. Sofia quis falar comigo:

- Mamãe, eu estou com muita dor, não estou me sentindo bem - Disse ela aos prantos. Chorava muito mesmo...

Tentei acalmá-la, pedi que tomasse o remédio e bastante água. Expliquei que mais tarde a buscaria.

Desliguei o telefone já me sentindo arrependida. Algo me dizia que ela não precisava de água nem de Novalgina... Liguei para a escola e pedi para avisarem que buscaria a Sofia mais cedo (só a Sofia. Tomás poderia continuar no horário normal). 

Algum tempo depois, passei na escola para buscá-la. Tivemos um fim de tarde "só de meninas". Bate papo na cafeteria favorita dela, um cappuccino especial de Nutella, muito carinho e... vejam só, mais nenhuma reclamação sobre dor de qualquer tipo... 

Há dores que se curam com um café...