terça-feira, 22 de maio de 2018

"Alguém nos ajude, Lázaro, a entender"

Quem acompanha meu Instagram ou Facebook, ao ver fotos postadas nas últimas semanas, talvez esteja se perguntando "o que deu nela, que agora vive em eventos de lançamento de livros?". Por coincidência, fomos a 3 eventos muito bons nas últimas duas semanas relacionados a escritores (uma palestra do Mário Sérgio Cortella, um lançamento de livro com ilustrações de Maurício de Sousa e texto de Mário Sérgio Cortella e o de domingo passado, que darei mais detalhes abaixo). Na verdade, não dá para chamar de coincidência, porque o Facebook cruza os dados da minha conta e dá sugestões de eventos que considera de meu interesse. Sim, o Facebook está certo, estou bem interessada em prestigiar autores que gosto, descobrir livros novos e mais interessada ainda em levar Sofia e Tomás junto.

Descobri, nesses eventos, que, além da alegria de poder dar um abraço, ganhar um autógrafo de um autor que admiramos e levar um (às vezes, mais do que um) bom livro para casa, acompanhar um bate papo sobre o tema do livro, há mais um ponto que pode ser bacana. Talvez soe contraditório, mas esse outro ponto é a fila... Ok, agora vocês tem certeza, sou louca! Meu marido, então, vai me xingar ao ler isso, porque, no lançamento do Maurício de Sousa, a fila estava na rua, não muito agradável nem confortável, mas eu, aproveitando a gentileza dele, fiquei dentro da livraria com as crianças (sim, ele tem um crédito comigo depois dessa). Claro que a fila, à primeira vista, pode desanimar, mas, se você está numa livraria (dentro dela!), a fila te dá a chance de, pra começar, algo raro na correria de SP. exercitar a paciência, desacelerar, observar as pessoas ao redor... Na fila também dá para bater papo, folhear alguns livros, ler um pouco, decidir comprar mais um livro além do lançamento em questão...

Antes de continuar, vejam a cena linda que presenciei hoje cedo. 6:30 da manhã e Tomás saiu sonolento do quarto para ir tomar seu leite antes de ir para escola. Normalmente, carrega com ele algum boneco para ficar inventando histórias, lutando ao lado do copo de leite e me proporcionando momentos de tensão. Hoje fiquei duplamente feliz e emocionada. Não teve luta e, no lugar dos bonecos, ele levou um livro! Tomou leite lendo!!!

Bom, após o breve parênteses, vamos ao evento mais recente...

Domingo passado, foi dia do nosso terceiro evento literário do mês. Livraria da Vila, na Vila Madalena, lançamento de "O Livro Sem Rimas de Maria", escrito por Lázaro Ramos e ilustrado por Maurício Negro. O livro é uma delícia, leve, divertido e com um visual lindo, Maurício fez um trabalho incrível. Foi um prazer estar perto de Lázaro Ramos e descobrir que, além de um ator/escritor talentoso, é uma pessoa com um astral ótimo, espontâneo, alegre e atencioso. A tarde de autógrafos foi em 'ritmo baiano', sem pressa, com muita conversa com cada um da fila e com  muitas risadas.

Ficamos um bom tempo na fila, lemos alguns livros, conversamos, lemos mais um pouco, ficamos com dor nas pernas e nas costas, ficamos com fome e então já estava quase na nossa vez...

Observando atentamente as pessoas à nossa frente, naquela ansiedade para o fim da espera, vimos uma menina, que devia ter uns 12 anos, entregar o livro para ser autografado e falar "Lázaro, eu canto!". Ele, super receptivo, divertiu-se com a apresentação inusitada e respondeu "ah, não acredito! Só acredito se você cantar pra mim!". A menina ficou tímida e ele, descontraído, falou que era brincadeira, bateu um papo rápido, abraçou e ela foi embora. 

Logo em seguida, outra menina, aparentemente da mesma idade, apresentou-se com a mesma frase: "oi, eu sou a ****** e sou cantora!" (ué?! Era fila de autógrafo ou teste para o "The Voice Kids"?!). Lázaro reagiu da mesma forma, brincalhão. A menina, séria, focada, continuou com um texto, que parecia decorado pela falta de naturalidade .... Perguntou se ele topava gravar um vídeo com ela. Porém,esqueceu de avisar que o vídeo não era COM ela... era um vídeo DELA, falando sem parar, com Lázaro ao lado. A impressão era de que Lázaro era cenário do vídeo, um "hashtag" para a futura postagem que ela faria nas redes sociais.

Poxa, gente, não quero parecer ranzinza, mas não consigo achar normal, bonitinho, esse modismo de crianças blogueiras, crianças "famosas", crianças que repentinamente tornam-se artistas, ganham seguidores (!!!) fazendo vídeos com falas pedantes e sem conteúdo. Esse deslumbramento, falta de humildade e, principalmente, de bom senso, me incomoda demais. Ao ir a um evento, acho fundamental respeitar o artista, não tentar aparecer mais do que ele...

Lamento que pais de crianças cantoras, modelos, atrizes, youtubers, blogueiras, escritoras (!!! já repararam a quantidade de livros escritos por crianças e adolescentes "famosos") não aproveitem, por exemplo, o privilégio de uma ida ao lançamento de um livro para, simplesmente, ler com os filhos, conversar, curtir uma tarde juntos, trocar carinho, criar mais vínculos e menos expectativas.

Relembrando o apelo feito por Criolo, em sua tão comentada (e criticada) entrevista a Lázaro Ramos há alguns anos, repito: 

"Alguém nos ajude, Lázaro, a entender".
Entender e aprender a lidar com a falta de bom senso e com o assustador encurtamento da infância.