quinta-feira, 24 de maio de 2018

Meu amor de infância era o Fagner

Nesta semana, uma foto me fez lembrar de um momento dramático que aconteceu quando eu morava sozinha, há uns 15 anos.

Eu estava lavando roupa, no tanque, um momento de muito glamour da vida doméstica. Para não estragar um anel que eu estava usando, tirei-o e coloquei ao lado. Mas não fui muito cuidadosa ao retomar a atividade no tanque, esbarrei no anel e lá foi ele, ralo abaixo. No reflexo e desespero, ao menos consegui fechar a torneira rapidamente. Porém, nem sinal do anel. Fiquei arrasada. Não, não era um anel de ouro, não era herança da família, mas era importante para mim e eu tenho um histórico de apego a coisas singelas... vejam só...

Voltando ao anos 80, eu estava na sala de casa com minha mãe e meu irmão (acho que a cena era essa) quando meu pai entrou com um ar não muito animado. Perguntamos o que tinha acontecido e ele contou que haviam arrebentado o vidro do nosso carro, que estava estacionado na rua, e roubado o rádio/toca-fitas. Comentou , aliviado, que, pelo menos, o carro não havia sido levado. Eu não fiquei nada aliviada, uma aflição me dominou e perguntei:

- Roubaram minhas fitas?!  (eu tinha algumas fitas K-7 favoritas... Para quem nunca ouviu falar em K-7, favor pesquisar no Google, porque isso já existiu sim, assim como o o telefone de discar, a máquina de escrever e algumas outras coisas da minha infância)

Então, meu pai disse:

- Não levaram todas as fitas...
- Mas não me diga que levaram a do Fagner!!!

Pois é... eu era uma criança muito fã de Fagner. A-MA-VA!!! Esse amor louco não é o mesmo hoje em dia, mas até hoje me emociono quando ouço "Ai, Coração alado. Desfolharei meus olhos nesse escuro véu. Não acredito mais no fogo ingênuo, da paixão...".  Bem infantil, né?!

Voltando à resposta do meu pai, ele confirmou... a fita do Fagner agradou muito o ladrão e foi, sim, levada. Momentos de depressão seguiram-se. Chorei muito, fiquei inconsolável.

A dor do anelzinho indo ralo abaixo foi similar à minha despedida forçada da fita do Fagner. Eu olhava pro tanque e chorava... Ainda chorando, tive a brilhante ideia de pedir socorro pro porteiro (meu prédio não tinha zelador). Ele, preocupado com meu desespero, foi imediatamente ao meu apartamento. Quando expliquei o que havia acontecido, ele me olhou meio de canto e disse:

- Você está chorando tanto assim só por causa de um anel?!!!

Como assim?! Só?!!! Aquele anel foi o primeiro presente que eu havia ganhado do meu namorado e o grau de importância e apego era nível máximo. Estávamos juntos há poucos meses, eu super apaixonada e encantada com o anel, que ele havia tirado do dedo e me dado (achei romântico, mas mal podia imaginar o que descobri anos depois. Ele não gosta de usar anel e talvez tenha sido um alívio tirá-lo do dedo e me dar...).

Não expliquei a história do anel para o Vanderlei, o porteiro do prédio, mas quase o beijei quando, rapidamente, numa ação que não exigia muito habilidade, nem técnica, abriu o sifão, tirou o anel e me entregou.

O K-7 do Fagner eu nunca mais recuperei. 
O anel está comigo até hoje. Não uso (não uso anel algum, nem aliança de casamento, o que foi uma boa economia)... mas o carinho por ele é grande.
Ah! E depois da quase perda do anel, descobri que existe sifão e que é possível abrí-lo quando necessário.