sábado, 30 de junho de 2018

Despedidas

Ontem Sofia me fez a seguinte pergunta:

- Mãe, quem sofre mais com despedidas? As crianças ou os adultos?

O questionamento foi feito logo após ela ter saído aos prantos do colégio. 

Apreensiva, enquanto não descobria o motivo, eu já estava esperando que ela me contasse que havia perdido algo que gosta muito. Realmente havia perdido, mas não era algo e sim alguém. Pela primeira vez ela sentiu a dor de "perder" um amigo. 

Seu colega de classe há 4 anos, o Lucas, está indo embora de São Paulo, para uma cidade próxima, e ontem foi a despedida da turma, dos professores, do time de futebol... Segundo a Sofia, todos os amigos choraram muito, ninguém teve vontade de comer na hora do lanche, a dor foi muito grande. Pelos olhos inchados, realmente ela deve ter chorado muito durante todo o dia.

Por uma triste coincidência, soube ontem que um amigo do Tomás também está se despedindo da turma neste mês. A mudança, nesse caso, será mais drástica, com um grau maior de dificuldade de marcar encontros futuros, pois a família está partindo para uma nova vida em Portugal.

Com esse cenário, vendo Sofia e Tomás cabisbaixos e tentando lidar com a dor, acabei me lembrando e compartilhando com eles duas situações parecidas que já vivi.

Quando eu tinha uns 16 anos, uma amigona minha, a Vanessa, foi embora com a família para Ribeirão Preto. Foi muito, muito difícil. Encontramos apoio para superar a dificuldade da separação trocando cartas (não havia e-mail e celular ainda... telefonemas interurbanos eram caros). Eram umas 2 ou 3 cartas por semana. Era uma alegria enorme olhar a caixa de correio e encontrar uma carta dela. A dor foi ficando cada vez menor.

Alguns anos antes, passei por uma situação bem mais difícil. Eu tinha 13 anos e precisei me despedir de TODOS os meus amigos de colégio. O Colégio Gávea, onde estudei desde de a 1ª série (atual 2º ano do Fundamental 1), estava encerrando suas atividades, o terreno havia sido vendido para a construção de um condomínio de prédios.

Voltando ao cenário atual... Sobre a pergunta da Sofia, tentei explicar para ela que cada um lida com esse tipo de situação de uma forma, mas normalmente as separações são difíceis, para adultos e crianças, para pais e filhos, mas vamos aprendendo a lidar e superar com o tempo. Tentei mostrar para eles que a nossa dor nesses momentos parece a pior do mundo, mas tentar colocar-se no lugar de quem está partindo pode nos fazer perceber que há alguém sofrendo muito mais. 

Desde que Sofia me contou que o amigo estava indo embora de SP, há pouco mais de uma semana, imaginei como devia estar sendo difícil para ele e para a família, fui pensando junto com ela em como a turma de amigos poderia ajudar a amenizar o clima de tristeza da despedida, em como poderiam dar carinho para tentar fortalecer o amigo e ajudá-lo a partir mais feliz. Decidimos comprar uma cartão gigante para que todos os amigos pudessem ter espaço para escrever uma mensagem para o Lucas. No colégio, eles organizaram um piquenique surpresa, onde aproveitaram para fazer a entrega do cartão. Foi uma troca de carinho linda.

Eu me emocionei muito com a união das crianças, com a troca de carinho. E ainda mais ao receber mensagem da Cora, mãe do Lucas, agradecendo muito e contando em como ele havia ficado feliz, em como havia sido especial esse acolhimento dos amigos.

Como disse à Cora, não há nada, nada mesmo a agradecer. Essa troca de carinho, de amor é muito especial, verdadeira e espontânea.  É uma TROCA. E é o que faz a vida fazer sentido. 

Turminha com o cartão "amizade é tudo de bom".