sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Enfiando o pé, ou melhor, o cabelo, na jaca


São Paulo tem coisas inusitadas. Em um bairro repleto de prédios, com muito comércio, trânsito intenso, o semáforo fecha, você para, olha pro lado e o que vê? Uma jaqueira carregada. Eram tantas jacas que até a Sofia, distraída no banco de trás reparou e perguntou:

- Nossa, o que são aquelas coisas naquela árvore, mãe?!
- São jacas, Sofia.
- Que esquisita... Ah, é essa fruta que você me contou uma vez que fez uma guerra?!

E então voltamos aos anos 80, na Ilhabela. 

A Ilhabela, para quem não conhece, não é apenas dominada pelos borrachudos, as jacas estão por toda parte também.
Passei minha infância e adolescência por lá, meus avós tinham uma casa no Perequê. Na nossa rua e no próprio terreno da casa, tinham jaqueiras, sempre carregadas. Numa tarde, eu, meu irmão e os filhos da caseira, brincávamos na rua. Aliás, a gente passava o dia na rua inventando brincadeiras. Nesse dia alguém deu uma ideia incrível! Tantas jacas maduras caindo das árvores, ninguém interessado em comê-las, nós poderíamos dar um outro uso... Fazer uma guerra de jacas. Calma! Não era com a jaca inteira! A ideia não era matar ninguém, apenas acertar o outro com aquela parte branca mole. Enfim, parecia divertido e a guerra começou. Tudo muito engraçado, até que uma bomba de jaca atingiu em cheio meu cabelo. Aquele negócio gruda, tem um cheiro enjoativo...

Contei essa história pra Sofia e chegando nessa parte ela perguntou:

- Mas e aí, você ganhou a guerra?

E eu, lembrando daquela jaca escorrendo pelo meu cabelo, respondi:

- Não, claro que não... 

A brincadeira acabou pra mim e até hoje passo bem longe de jacas. Embora há uns 14 anos eu tenha tido meu segundo episódio desagradável com essa fruta... Meu marido, voltando da praia, viu um vendedor de jacas na estrada. Me implorou pra parar, disse que amava jaca e que queria levar uma pra casa. Enfiou aquela "pequena" fruta no carro, que foi pegando sol durante todo o caminho de volta pra casa e ficando a cada minuto mais madura. Paguei meus pecados de novo ficando com o carro impregnado com cheiro de jaca por mais de uma semana.