segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O (lamentável) jeitinho brasileiro


Se tem algo que me angustia atualmente é a ausência de boas perspectivas de futuro no Brasil. Crise econômica, desigualdade social, falta de água, poluição, violência...são questões extremamente preocupantes, não há como viver em paz e satisfeito no cenário atual.  Porém, o que me aflige de fato é uma questão cultural, educacional que limita a evolução de uma sociedade que há tempos não evolui, pelo contrário, regride, despenca morro abaixo.

O tom de brincadeira que sempre se deu à característica do brasileiro de " dar um jeitinho" de resolver as coisas, tornou-se o grande mal de nossa sociedade. O "jeitinho", tratado com graça, faz a maioria acreditar que não tem problema dar um "jeitinho" de não pagar uma multa, um "jeitinho" de burlar um regra de trânsito, um "jeitinho" de furar uma fila ou não respeitar vagas prioritárias em estacionamentos. O "jeitinho" brasileiro está representado aos montes na política brasileira, onde sempre dão um "jeitinho" de serem reeleitos mesmo com a ficha suja.

E a população não reage, não se manifesta. Por que? Está adaptada, acomodada a esse exemplo de comportamento, à falta de educação e de respeito ao próximo. E pior! Os poucos que ainda tentam agir com o mínimo de correção, de coletivismo, de caráter, de boa índole e educação são tratados com deboche pela maioria. Ser correto hoje em dia é ser trouxa ou, no mínimo, diferente.

O legal é não respeitar horário marcado, porque brasileiro atrasa mesmo, e daí?

Bacana mesmo é não respeitar regras básicas de convivência em sociedade. Qual o problema de jogar lixo pela janela do carro ou de não dar passagem a pedestres? Quase todo mundo faz isso, e daí?

Tem radar? Não? Então vou acelerar, porque não comprei meu carrão novo pra andar a  40km/hora e nem ficar parado em sinal vermelho.

Ixi, recebi multa? Ah, não tem problema, a cada esquina tem uma faixa com a propaganda "recebeu multa, recorra aqui!". Se não tiver jeito, transfiro os pontos da carteira pra um parente.

O show/peça vai começar e soa o aviso de proibido fotografar ou filmar. As luzes apagam-se e uma centena de celulares registram cada minuto.  A nova moda são as malditas "selfies", com o palco de fundo! O povo vira as costas pro artista e o utiliza como cenário.

O colégio não quer aceitar meu filho na turma mais avançada, porque ele nasceu depois da data de corte estabelecida por lei? Tudo bem, entro com uma liminar, porque não quero meu filhinho "atrasado". 

Atrasados somos nós, que vivemos num país com potencial maravilhoso e não fazemos nada para que ele seja de fato maravilhoso. Pelo contrário, vamos "dando um jeitinho" de sobreviver aqui e exaltamos a perfeição de outros países, com seu povos educados e conscientes, suas ruas limpas, seus motoristas educados, etc.

Olhar um pouco para o próprio umbigo e assumir sua parcela de culpa nesse estrago já feito por aqui  é um começo para que haja alguma chance de um futuro mais apresentável.

E aos "diferentes" resta a persistência de manter o foco, a fé e convicção de estar no caminho certo, nem que seja pra viver em paz, ao menos, com a própria consciência.

(Continuando nesse tema, sugiro a leitura de um texto muito bom publicado dia 01/08/2014, por Geraldo Simões em seu blog. http://motite.blogs.sapo.pt/o-tigre-o-menino-e-o-transito-110393)

"Educação não é um comportamento expresso diante de fiscalização, o nome disso é obediência. Educação é o comportamento do indivíduo quando não tem NINGUÉM olhando!" Geraldo Simões