30 anos atrás, em dezembro.
A menina, com 6 anos, olhinhos puxados, cabelinho de índia,
cara de sapeca, passa ligeira pela sala. Olha para um lado, olha pro outro.
Ninguém. Foca seu alvo, a árvore de Natal.
Vai até ela, tira o máximo de enfeites que consegue no
intervalo de 1 minuto, espalha-os pelo chão e volta correndo pro quarto.
Aguarda...
O grito!
“Quem tirou os enfeites da árvore?!!!”
A menina, astuta, disfarça e aparece depois de um tempo na sala, olha
pra “arte”... depois olha pra gata (Tutty) e diz, com tom de reprovação:
“Ai,
Tutty, que feio! De novo!!!” (a gata realmente já havia dado umas patadas nos
enfeites, mas nada perto do que havia sido feito dessa vez).
A mãe (faz que) acredita, recoloca os enfeites, dá um pito na
gata e sai da sala.
Sucesso!!!
E a menina, ousada, resolve testar a eficácia de
seu plano novamente.
Só que desta vez a sorte não está ao seu lado e é pega no pulo. Recebe um castigo duplo
pela estripulia e por ter colocado a culpa na pobre gata.
30 anos depois, em dezembro.
Casa decorada para o Natal. A menina desta vez tem 4 anos,
olhinhos puxados, cabelinho de índia, porém ruiva, cara de sapeca.
A árvore de Natal não foi o alvo do plano infalível desta
vez, apenas fazia parte do cenário.
A menina almoçava com o irmão. Na verdade, fingia que
almoçava, pois não estava realmente interessada na comida.
Numa das muitas idas da mãe para a cozinha (almoço com
criança é assim... Você senta para comer e eles querem mais suco, querem outro
talher, querem guardanapo, enfim, umas 5 idas à cozinha é a média por
refeição), a menina grita:
“Tomááááss, NÃO acredito que você fez isso!!!”
Imediatamente a mãe volta para verificar o ocorrido.
O prato da garota está completamente vazio. A comida está parte da mesa,
parte no prato do irmão.
A mãe analisa a cena, olha para o menino, olha para a menina e depara-se com algo muito familiar... aquele
olhar... Um olhar de garotinha sapeca, que pensou nos detalhes do plano,
aproveitou o momento ideal e estava ali apenas aguardando para poder ver o
outro levar uma bronca e poder exibir disfarçadamente um sorriso de satisfação.
Porém...
“Tsc, tsc, tsc, tsc, tsc, Sofia, pode esquecer, essa fui eu
quem inventou e, te garanto, não dá certo!”
E a menina ficou ali com aquela cara de “como ela percebeu?
Afinal, meu irmão é tão guloso... e tão desastrado...”
Pois é, a genética, a genética...