quarta-feira, 22 de maio de 2013

Estamos todos doentes. Eu, você e a Angelina Jolie.


Doentes de medo.
Medo de tudo.
Da morte,
Da vida,
Da violência,
Da poluição,
Das doenças...
A lista é extensa, então paro por aqui, porque o problema não é o nome do medo, mas, sim, o efeito dele. O medo paralisa, emburrece, contagia. 
Quantos de vocês leram nos últimos dias reportagens exaltando a “coragem” de Angelina Jolie? Coragem? Como assim? Uma moça saudável, linda, bem sucedida, que vai atrás de um exame de DNA para investigar suas chances de ter câncer algum dia. Após o resultado, opta por retirar seus seios (saudáveis!) como prevenção. 
Sem ter nada, além de uma probabilidade, a pessoa decide submeter-se a uma cirurgia, retirar parte de seu corpo. E SE o exame de DNA estivesse 100% correto  e ela realmente ficasse doente um dia, poderia ser com quantos anos? 40, 50, 90, 95. E quem garante que ela não morrerá amanhã por um motivo banal, sem relação alguma com seus fatores genéticos? 
Pois é, mas o medo fez com que ela optasse pelo método radical. Medo da morte ou medo de talvez precisar um dia enfrentar um tratamento agressivo como uma quimioterapia... Enfim, não enxergo essa notícia como um ato de coragem, muito menos exemplo a ser seguido (que é algo que me aflige, pois trata-se de uma pessoa famosa e a notícia espalhou-se rapidamente e sempre de forma positiva). 
Assim como a maioria das pessoas hoje em dia, Angelina Jolie precisa de um tratamento,  não contra um câncer inexistente, mas contra uma doença muito mais complexa e difícil. O medo. E ela precisa correr, antes que se desfaça de mais partes de seu corpo, pois já correm boatos de que pretende retirar os ovários... e por aí vai... 
Que fique bem claro, não escrevo como a dona da verdade ou um exemplo de pessoa saudável. Também assumo estar contaminada. 
Ontem, por exemplo,  tive certeza disso. 
Passava pela Vila Madalena, um bairro delicioso, onde morei por anos, por onde andava muito a pé, onde ia tranquilamente a bares e restaurantes. Sempre olhei com saudade e alegria para cada canto do bairro, onde estão guardadas várias de minhas memórias. Porém, meu olhar mudou.
De dentro do meu carro, parada no trânsito, observava os bares e restaurantes e pensava “esse tem o perfil de lugar escolhido para arrastão”. Deprimente, triste demais. 
Porém, envergonhada do meu próprio pensamento, tento mudar o foco. Olho pro banco de trás e vejo meus filhos dormindo nas cadeirinhas, com tanta vida pela frente, com o coração tão aberto às coisas boas do mundo e percebo que preciso combater meus medos o quanto antes, não posso permitir que minha vida fique tão cinza, tão sem graça, tão sem expectativas de futuro positivo. 
Não sei qual o caminho pra combater essa doença, mas não creio que a fuga resolva. Fugir pra onde, pra que? O medo nos acompanha. 
Estamos na era da prevenção. Esquecemos de ir em busca da solução, que, muitas vezes não está ao nosso alcance, é fato... Só que podemos batalhar por isso, embora nossa cultura seja a do individualismo. Ficamos individualmente paralisados, egoístas, desunidos, pagando por um sossego ilusório. E estamos pagando caro! 
Uns tiram partes do corpo, outros congelam cordão umbilical.  Muitos pagam seguros saúde caríssimos, seguros de vida, seguros de casa e até, absurdo totalmente compreensível nos tempos atuais, seguro de tablets e celulares.  E viva a expansão das empresas que colocam seguranças uniformizados e em frente aos condomínios. Viva o uso crescente de senhas, de travas, de insulfilm. Viva a banalização do antidepressivo. 
Métodos preventivos sem limites pra que mesmo? Ah, é... porque estamos todos doentes e não sabemos como buscar a cura, ou não conseguimos enxergá-la. O que me faz lembrar o sábio escritor José Saramago, em “O Ensaio Sobre a Cegueira”: 
“O Pior Cego É Aquele Que Não Quer Ver”