Nunca uma segunda-feira foi tão cinza.... Sim, amanheceu
nublado e com garoa, mas o cinza é muito mais intenso do que o normal. Não está apenas no céu, mas por toda parte.
São 46,03% que
deixaram escuridão pelo caminho. São 46,03% que estão por todo lado. Pode
ser um vizinho, um amigo, um parente, o segurança do colégio, seu chefe, o
padeiro, o motorista do Uber... enfim, quase metade das pessoas ao seu redor
teclaram 17 na urna eletrônica para "eliminar o PT" do poder. Infelizmente o que se revela é que o ódio implícito nessa justificativa de voto não se restringe ao partido, à crise econômica.
O que se
mostra a cada dia é que teclar o 17 significa muito mais do que uma escolha política. Teclar 17 faz com grande parte desses 46,03%
sinta-se à vontade para colocar seus monstros para fora... xingar nordestinos, ameaçar mulheres, negros, lgbts e "macumbeiros", fazer vídeos portando armas e
comemorando que, em breve, essas podem estar liberadas para os "cidadãos de
bem" se protegerem...
Sou mulher, tenho filhos, sou casada com um nordestino, tenho muitos amigos gays e
negros, frequento centro de umbanda... e por aí vai... O que sinto hoje, além
de muito medo pelo futuro de todos nós, é uma tristeza enorme. Realmente não
faz sentido, não consigo compreender de onde vem tamanha raiva,
tamanha aversão ao outro, tamanha preocupação com a vida ou aparência alheia, tamanha crueldade. Já passou dos limites da discussão
política. Não é mais apenas um infantil Fla x Flu. Infelizmente vai
muito além disso, é uma regressão. Fere a alma, dói, machuca de verdade.
Ah, claro, ainda há um segundo turno.
Não importa.
O resultado parece ser
bem previsível, mas, mesmo que uma reviravolta aconteça, não há o que
comemorar.
O lado sombrio, sinistro, desumano de milhares de pessoas foi colocado
escancaradamente para fora. Andar na rua nessa segunda-feira cinzenta foi triste,
pois a cada pessoa que passou por mim só me vinha uma inevitável pergunta na mente: "será
que você faz parte dos 46,03% que acharia ok me agredir (ou alguém da minha família)
fisicamente ou moralmente por questões raciais, sexuais ou religiosas?".
Em meio à tristeza, decepção e ao medo, só posso tentar desejar que
algum dia tenhamos uma porcentagem maior de pessoas que optem por evolução, amor, respeito e paz.