segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Um dia nunca foi tão cinza como hoje


Nunca uma segunda-feira foi tão cinza.... Sim, amanheceu nublado e com garoa, mas o cinza é muito mais intenso do que o normal. Não está apenas no céu, mas por toda parte.

São 46,03% que deixaram escuridão pelo caminho. São 46,03% que estão por todo lado. Pode ser um vizinho, um amigo, um parente, o segurança do colégio, seu chefe, o padeiro, o motorista do Uber... enfim, quase metade das pessoas ao seu redor teclaram 17 na urna eletrônica para "eliminar o PT" do poder. Infelizmente o que se revela é que o ódio implícito nessa justificativa de voto não se restringe ao partido, à crise econômica. 

O que se mostra a cada dia é que teclar o 17 significa muito mais do que uma escolha política. Teclar 17 faz com grande parte desses 46,03% sinta-se à vontade para colocar seus monstros para fora... xingar nordestinos, ameaçar mulheres, negros, lgbts e "macumbeiros", fazer vídeos portando armas e comemorando que, em breve, essas podem estar liberadas para os "cidadãos de bem" se protegerem...

Sou mulher, tenho filhos, sou casada com um nordestino, tenho muitos amigos gays e negros, frequento centro de umbanda... e por aí vai... O que sinto hoje, além de muito medo pelo futuro de todos nós, é uma tristeza enorme. Realmente não faz sentido, não consigo compreender de onde vem tamanha raiva, tamanha aversão ao outro, tamanha preocupação com a vida ou aparência alheia, tamanha crueldade. Já passou dos limites da discussão política. Não é mais apenas um infantil Fla x Flu. Infelizmente vai muito além disso, é uma regressão. Fere a alma, dói, machuca de verdade.

Ah, claro, ainda há um segundo turno. 
Não importa. 
O resultado parece ser bem previsível, mas, mesmo que uma reviravolta aconteça, não há o que comemorar. 
O lado sombrio, sinistro, desumano de milhares de pessoas foi colocado escancaradamente para fora. Andar na rua nessa segunda-feira cinzenta foi triste, pois a cada pessoa que passou por mim só me vinha uma inevitável pergunta na mente: "será que você faz parte dos 46,03% que acharia ok me agredir (ou alguém da minha família) fisicamente ou moralmente por questões raciais, sexuais ou religiosas?".

Em meio à tristeza, decepção e ao medo, só posso tentar desejar que algum dia tenhamos uma porcentagem maior de pessoas que optem por evolução, amor, respeito e paz.